Na noite de 29 de Março de 73, comemorava-mos o vigésimo terceiro aniversário do camarada João Medeiros, com rancho melhorado e algumas guloseimas, num jantar organizado no depósito de géneros, que servia nessa altura, também de messe ao comando. Vou recordar aqui passados muitos anos uma pequena “brincadeira” ou melhor uma encenação quase real dum ataque, que acabou por abrir algumas hostilidades no seio da companhia, acabando a curto prazo com a saída da unidade do nosso 1º Sargento Meira Torres em confronto com alguns camaradas milicianos, como devem estar ainda lembrados.
Pelas imagens do evento havia muita gente na festa natalícia do Medeiros, o cap. Santos, alf, Braz, 1º Torres, 1º Botelho, Carlos Diogo, António Soares, Marques, Parreira, o saudoso António Carrilho, Ramalhosa, Carvalho, Vicêncio Carreira o Atanáxio Vieira e o cambuta do “Caióia”, e também decerto, o Duarte e o Cardoso da Silva que faziam parte do clã residente na Colina do Nengo.
Cap. Crisóstomo dos Santos, João Medeiros, João Brás, 1º Torres, Carvalho e 1º Botelho
Jantados e bem bebidos, em final de festa, cantados os parabéns ao aniversariante, estávamos, no bota acima, bota abaixo, quando soou uma sucessão de explosões para além do perímetro de segurança do destacamento, a energia eléctrica caiu e a rapaziada, saiu desenfreada porta fora á procura das armas, para tomarem as suas posições “nos abrigos ao longo da barreira periférica de protecção,” houve algumas rajadas de limpeza sobre a orla da mata do lado do pressuposto ataque, sem que houvesse alguma resposta. Depois de uma longa e enervante dezena de minutos á espera de mais “ameixas”, o Maior mandou abortar o alerta, reuniu o pessoal para saber se tudo tinha corrido de acordo com as regras de segurança, se não tinha havido falhas de cobertura, enfim se estava tudo operacional, esta manobra tinha sido efectuada, para testar a capacidade de reacção e rapidez na resposta a uma eventual situação real, que por mero acaso ou protecção divina nunca nos aconteceu.
Á esquerda Carrilho, Diogo, Marques, Soares, Carvalho, depois Carreira, Vieira e Caióia
Depois de desmobilizada a acção voltou tudo á normalidade, regressámos para acabar a festa comentando com alguma surpresa o sucedido, pois a maioria não tinha conhecimento, á excepção de três ou quatro envolvidos na simulação, ligaram o gerador da luz quando entravámos novamente no depósito de géneros, e qual não foi o nosso espanto, perante aquela cena hilariante, o nosso 1º Torres mais parecia um fantasma, coberto de farinha dos pés á cabeça, semblante carregado, cara de espanto, qual alma do outro mundo, na ânsia de se proteger enfiou-se no primeiro buraco que encontrou, nada mais nada menos que o caixote onde o padeiro guardava o fermento e a farinha para fazer o pão. Não houve ninguém que ficasse indiferente á situação, deu para rir e para chorar, o nosso 1º Sargento era o elemento mais idoso do efectivo, e não gostou nada daquele filme onde entrou como figurante e acabou promovido a actor principal..! Alguns levaram um correctivo verbal e outros ameaçados com participação disciplinar. A esta distância no tempo, penso que foi puro esquecimento, não terem participado a acção ao veterano da companhia, ou então decerto uma grande sacanice..!
Adeus até ao meu regresso
Camarada Carvalho:
ResponderEliminarA tua "história" está excelentemente contada e, e neste momento, após ter visto as imagens que a ilustram, surge-me uma luz de tal episódio sobre o qual, há tempos e em conversa telefónica contigo, te dissera não ter qualquer recordação. Tal facto deve ter origem na circunstância de estar "avisado" do que iria suceder, não tendo, por essa razão, ficado registada no meu sub-consciente tal ocorrência, da qual nunca me teria esquecido se tivesse sido um "ataque real" que, certamente, me teria ficado gravado permanentemente na memória. Quanto
à personagem principal do episódio e seu papel tragicómico, devemos ter em atenção o seguinte axioma popular:"Gato escaldado, de água fria tem medo"! e dar-lhe um "desconto", porquanto, na verdade, foi ele quem, na realidade, sentiu os efeitos que sentiriam os demais, se tal fosse uma ocorrência real e não uma "simulação" como foi na realidade.A título de informação, a pessoa em questão esteve em teatros de guerra a sério, como foram a Guiné-Bissau, que devem ter deixado em quem o "pisou" marcas profundas e permanentes que devem ser tidas em conta no seu desempenho na presente "encenação" de um "ataque"
Um abraço do Camarada e Amigo,
Botelho