De José da Cunha Ramalhosa
Tenho lido algumas crónicas publicadas no blog, que a sorte sempre nos acompanhou e protegeu ao longo da comissão, opinião generalizada entre quase todos os camaradas.
Estávamos destacados na mata, quando numa madrugada, escura como breu, talvez fase de Lua Nova ou perto disso, aconteceu um episódio com dois camaradas, um cabo e um soldado de serviço no quarto de sentinela, a berliett ficava normalmente estacionada no centro do destacamento e a rapaziada de guarda tinha por hábito, sentarem-se no banco da frente para melhor poderem vigiar a periferia envolvente e sempre que ouviam algum ruído estranho na imediação utilizavam o holofote de caça para averiguar. Por qualquer motivo o cabo desceu da viatura e o seu companheiro de turno, ficou sentado acabando por adormecer.
Passado pouco tempo o cabo voltou e ao tentar subir agarrou o braço do soldado, este ao sentir-se agarrado, acordou estremunhado e aos gritos de arma em riste apontada ao cabo, e o cabo também a gritar, sou eu, sou eu, com medo que o soldado lhe desse um tiro. Acordamos todos assustados com aquela gritaria, sem tempo para pensar duas vezes, puxo da G3 e apontei-a para a entrada da tenda, pronto a disparar no primeiro vulto que aparecesse. Felizmente que nenhum camarada se lembrou de entrar na tenda naquele irreflectido momento.
António Carocinho (Beja) Ramalhosa e Zé Abreu no Mussuma
O saudoso Carrilho foi mais lesto, pegou na da arma e deu um tiro para o ar no interior da tenda, um longo e aterrador silêncio invadiu o destacamento naquela madrugada, passados alguns momentos, chamamos pelos sentinelas, e começámos a conversar sobre o que se tinha passado, depois de analisadas e concluídas as averiguações, dei uma volta pelas restantes tendas, para ver se estava tudo em ordem e vi algumas cenas caricatas…! A falta de comunicação entre os dois sentinelas foi um erro tremendo, que poderia ter acabado numa tragédia naquela noite.
Caricato foi o buraco na nossa tenda por cima da cama do Carrilho, pois sempre que chovia tinha que montar o poncho e via-se aflito para não dormir molhado. Aproveito para desejar a todos os camaradas e suas famílias umas Santa Páscoa
Um abraço até sempre
José Ramalhosa
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