o0o A Companhia de Artilharia 3514 foi formada/mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira Nº 3 em Évora no dia 13 de Setembro de 1971, fez o IAO na zona de Valverde/Mitra em Dezembro desse ano o0o Embarcou para Angola no dia 2 de Abril de 1972 (Domingo de Páscoa) num Boeing 707 dos Tams e regressou no dia 23 de Julho de 1974, após 842 dias na ZML de Angola, no subsector de Gago Coutinho, Província do Moxico o0o Rendemos a CCAÇ.3370 em Luanguinga em 11 de Abril de 1972 e fomos rendidos pela CCAÇ.4246 na Colina do Nengo em Junho de 1974. Estivemos adidos em 72/73 ao BCav.3862 e em 73/74 ao BArt.6320 oOo O efectivo da Companhia era formada por 1 Capitão Miliciano, 4 Alferes Mil, 2 1º Sargentos do QP, 15 Furriéis Mil, 44 1º Cabos, 106 Soldados, num total de 172 Homens, entre os quais 125 Continentais, 43 Cabo-Verdianos e 4 Açorianos» oOo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Caminho das Terras do Fim do Mundo (5)

Ali no Lufuta, naquelas paragens inóspitas da savana africana, havia uma importante preocupação diária, a que já, anteriormente, nos referimos - a segurança. A hipótese de um ataque ao acampamento não era ficção e não podia nunca ser encarada com leviandade. Erro seria admitir o contrário, mesmo sabendo que isso não acontecera com o grupo de combate que nos antecedeu da Caç3370. Pensando em tudo isto, pediu-se à TECNIL, cuja nossa principal função era dar protecção ao seu pessoal e maquinaria, para nos protegerem o acampamento e os seus "bungalows" erguendo uma barreira de areias e laterites com, mais ou menos, metro e meio de altura, circundando todo o acampamento que, assim, nos passaria a garantir uma confortável segurança no caso de acontecer um "aperto" inesperado. Apesar de parecer que estávamos mais protegidos, nunca se baixou a "guarda" e todos levavam isso a sério, como ficou comprovado certa vez e se demonstra com o episódio que de seguida passo a narrar:
" BUNGALOWS"
Cerca de um mês a mês e meio após a nossa chegada, uma secção de pessoal foi dar protecção a uma máquina bate-estacas que procedia à execução dos pilares daquela que seria a nova ponte do Lufuta na via de ligação Luso/Gago Coutinho. Como se tornava necessária presença diurna e nocturna, lá se tiveram de instalar dois dos "bungalows" que nos haveriam de acompanhar por toda a parte desde o primeiro ao último dia. Também aí, a segurança era a palavra de ordem mais importante. Com pouco tempo de Leste, estávamos todos a sofrer os primeiros efeitos do famoso cacimbo(*). Para nós os militares, o cacimbo, transformava-se num vírus benigno umas vezes outras nem tanto, mas que nos imunizava contra tudo e contra todos . Este vírus, já na época, era muito democrático, porque atacava toda a gente independentemente da sua patente, todos ficavam cacimbados(**). Uma certa tardinha, em que algo correu mal pelos lados da cozinha, se assim se podia chamar àquilo sem correr o risco de insultar os cozinheiros, em face da precariedade dos meios, aconteceu que o jantar, que deveria estar pronto por volta das 17.00 horas, só lá por volta das 20.00 é que seria dado por concluído. Ora, a secção que estava destacada na ponte acima referida, e que vulgarmente tinha a "janta" aí pelas cinco ou cinco e meia, sentiram-se esquecidos. Aí pelas 19.30, com tudo silencioso calmo e tranquilo, ouve-se o estrondo de uma granada que colocou tudo em "alerta vermelho". Todos imaginaram:
"O pessoal do destacamento está a ser atacado!".
Em breves momentos o pessoal da força "Delta One" , da qual eu também fazia parte - assim os designo por nela incluir o Maurício Ribeiro - mandou instalar segurança no acampamento e, armados até aos dentes, partiram pela berma da chana, em certos sítios, "tira pé, mete pé", fez em poucos minutos uma aproximação ao destacamento, que ainda distava aí uns bons mil metros ou mais do acampamento. Lá chegados, verificámos que estava tudo dentro da normalidade e “dentro dos conformes”, como diria o nosso amigo Odorico, promotor do cemitério de Sucupira, artista de outras telenovelas muito posteriores a este episódio.
Verificada a normalidade, a questão que permanecia, era o que realmente teria acontecido. Quando o Maurício, tal e qual como os outros - sujos, molhados, cheios de lama e porque não dizê-lo cheios de "coragem miudinha" - perguntaram ao Raul Sousa, o que se tinha passado para ele ter lançado uma granada, ele com a maior das calmas e descontracção, apanágio que sempre o acompanhou durante toda a comissão, mesmo nos momentos mais difíceis, respondeu: - Então, estamos cheios de fome, e o rancho, não veio!!!
- Oh pá, não brinques, mas a granada não é só para ser lançada em último recurso?
- Pois!...E achas que, sem tacho, sem rádio e às oito da noite, não foi mesmo em último recurso?!
Perante a resposta tão rápida, desconcertante e vista a esta distância, com plena justificação, foi gargalhada geral e tudo acabou ali mesmo.
Por agora, ficamos por aqui, mas a nossa história nas margens do Lufuta ainda não acaba com este episódio.
Em especial, a todos os camaradas que fizeram parte do 4º Grupo, e, em geral, a toda a família Panteras Negras, um grande abraço.
Até Fátima.

(*) "cacimbo" – nevoeiro denso que se forma à noitinha e de madrugada em alguns pontos de quase toda a África, acompanhada de chuva miudinha e fria, muito prejudicial para a saúde dos que a ela se expõem sem a devida protecção. Ocorre na época seca tropical(Inverno).

(**) " cacimbado" - em gíria militar era uma "doença psicológica benigna" de que quase todos os militares padeciam, aí dos dois meses de comissão em diante, cuja única consequência era a de ficarem "passados dos carretos".

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