o0o A Companhia de Artilharia 3514 foi formada/mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira Nº 3 em Évora no dia 13 de Setembro de 1971, fez o IAO na zona de Valverde/Mitra em Dezembro desse ano o0o Embarcou para Angola no dia 2 de Abril de 1972 (Domingo de Páscoa) num Boeing 707 dos Tams e regressou no dia 23 de Julho de 1974, após 842 dias na ZML de Angola, no subsector de Gago Coutinho, Província do Moxico o0o Rendemos a CCAÇ.3370 em Luanguinga em 11 de Abril de 1972 e fomos rendidos pela CCAÇ.4246 na Colina do Nengo em Junho de 1974. Estivemos adidos em 72/73 ao BCav.3862 e em 73/74 ao BArt.6320 oOo O efectivo da Companhia era formada por 1 Capitão Miliciano, 4 Alferes Mil, 2 1º Sargentos do QP, 15 Furriéis Mil, 44 1º Cabos, 106 Soldados, num total de 172 Homens, entre os quais 125 Continentais, 43 Cabo-Verdianos e 4 Açorianos» oOo

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A todos os Camaradas e Companheiros

UM BOM ANO DE 2009

Nesta data querida.....

Ao jovem e amigo Botelho, os nossos sinceros parabéns por mais um aniversário, a quem desejamos muita saúde e anos de vida, são os votos com amizade dos companheiros da Cart.3514.
Um abraço

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Reencontro

EUA - De Arlindo Machado de Sousa:
Neste ano de 2008, que está chegando ao fim, tive a agradável surpresa de primeiro, encontrar o Carvalho, por mero acaso, e depois ir vendo fotografias, lendo artigos, sabendo noticias de outros que, como eu, viveram uma etapa importante da sua vida ao serviço da Pátria em Angola, e que agora estamos espalhados pelos 4 cantos do mundo, mas que graças à internet podemos reatar o contacto. Desde os artigos antigos até às noticias mais recentes.... é um desfilar de imagens, memórias, saudades, emoções...enfim: vidas que se tocaram , afastaram e se voltam a cruzar,e em alguns casos, a tristeza de saber que alguns já nos deixaram fisicamente, mas que estarão sempre presentes, da maneira como nos conhecemos, como nos separámos há trinta e tal anos!Que suas almas descansem em Paz e que suas famílias saibam que camaradas de guerra guardam para sempre a memória de alguém com quem partilharam uma época tão marcante de suas vidas, e que Deus lhes dê força para suportarem uma perda tão grande!
Quero dar os parabéns ao António Carvalho pela ideia de lançar este site, a todos aqueles que tem colaborado, a todos quantos tem contribuído com as suas palavras para que este seja uma "caixa de correio" tão interessante onde podemos saber mais uns dos outros e agradecer ao Carvalho convite para colaborar o que farei com o maior prazer sempre que possível.
Agora quero desejar a todos um Ano Novo próspero, com muita paz e que apesar de estarmos numa fase conturbada, com instabilidade económica, convulsões politicas, tenhamos esperança de que depois das tempestades sempre vem a bonança!
Para todos um forte abraço e Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

De Carocinho Jr.

Foi o primeiro destacamento para lá do rio Nengo, que poucos dias depois recebeu a visita do nosso Capitão Rui Crisóstomo dos Santos, aqui na imagem na companhia do Carvalho, Carocinho, Carmo, Alf. Rodrigues, fur. Monteiro, Resende e á civil o operador da buldozer que fazia a desmatação á qual o 1º pelotão dava protecção.

Comentário em "Pescaria Artesanal":
Anónimo disse...
È com muito gosto que vejo esta foto do meu pai " Carocinho " com os seus camaradas , ele falou-me deste blog e disse-me para ver os tempos dele em Angola, e eu quero felicitar os editores, porque acho que é muito giro recordarem os vossos tempos, e estarem sempre em contacto uns com os outros, afinal de contas eram como que uma família... PARABÉNS.
29 Dezembro, 2008 23:04

Nr। Caríssimo Amigo Carocinho Jr é com imenso prazer que lemos este teu comentário acerca dos camaradas da Cart3514 e bem podes crer que esta amizade, existente entre nós é de facto muito forte e da qual nos orgulhamos bastante, quero-te dizer também que foi com homens como o teu Pai, que conseguimos construir esta união, com lealdade, empenho e camaradagem, sempre disponíveis quando era necessário trabalhar e ajudar, sempre disponíveis quando era para brincar, mas sempre com respeito e amizade, e o António Jacinto Penacho Carocinho era dos mais carismáticos entre todos nós, com ele íamos para todo o lado na sua berliett, apenas um senão aquelas pontes estreitas do leste que ele teimava em passá-las de prego na chapa, não passava nas pontes, voava por cima das pontes, dizia ele com orgulho desmedido depois do perigo passado.

Um abraço

Pai Natal em Gago Coutinho

Lumbala Nguimbo
INAC entrega brinquedos a crianças dos Bundas
Cem crianças do Programa Infantil Comunitário no município dos Bundas, província do Moxico, receberam domingo, em Lumbala Nguimbo, da Direcção Provincial do Instituto Nacional da Criança(INAC), diversos brinquedos, no âmbito da festa antecipada do natal a si dedicado.
No acto de entregue, o director provincial do INAC, Angelino Armando Liló, disse que 14 outros petizes internados na Pediatria do Hospital Municipal dos Bundas beneficiaram também de presentes.
Na ocasião, o responsável desejou rápidas melhoras e festas felizes a todas as crianças que neste momento se encontram doentes e internadas nos distintos estabelecimentos hospitalares do país. Para ele, a criança merece o carinho dos pais e de todo o ser humano que lida nas diferentes instituições públicas e privadas, para criar uma boa harmonia, aproximação e relacionamento entre os menores e mais velhos, em prol de um futuro risonho dos menores.
À margem da festa do natal, 50 crianças dos municípios sede (Moxico), Kamanongue e Bundas (anfitriã), visitaram em Lumbala Nguimbo, o projecto de construção de 40 casas para juventude local, financiado pelo Ministério da Juventudes e Desportos.
O Hospital Municipal, onde estão internadas quatro crianças infectadas por VIH/SIDA e a ponte sobre o rio Nengo, foram igualmente visitados pelos menores que se deslocaram à referida circunscrição, situada a mais de 300 quilómetros, a sul do Luena, para participar da festa do Natal antecipado da criança.
noticia AngolaPress

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Recordações do Leste de Angola

Caros Amigos:
Aqui me têm de novo, com mais uma contribuição para a continuidade deste "blog", desta vez com uma foto tirada no Bar da FAP no Destacamento de Gago Coutinho em companhia do meu escriturário, o Carrusca. Esta foto foi tirada quando a Sede da CArt se encontrava adida ao BCav.3862 o "Cavalo Branco", portanto no ano de 1972 e no início da nossa comissão, e após a saída do Luanguinga.
Já lá vão decorridos cerca de 36 anos, mas sempre que me acontece esbarrar com estas ou outras fotografias contemporâneas desta, sucede surgirem as inevitáveis recordações e saudades, não digo da situação em si, mas dos tempos que se passaram e que mal-grado as circunstâncias, deixam sempre recordações agradáveis e difíceis de esquecer.
E assim, para futura memória nossa e dos nossos descendentes, aqui fica mais este documento de factos ocorridos connosco, mas que se tornarão documentos com que se fará a continuidade da história que deixaremos aos vindouros.
Não pretendo alongar-me mais, não me tornando maçador e correndo o risco de me tornar repetitivo e assim envio cordiais saudações a todos os colaboradores deste "blog", assim como aos seus visitantes e pedindo-lhes, ao mesmo tempo, que se arrisquem a mostrar-se e contribuírem com mais alguns "documentos " que interessem à nossa comum História.
Cumprimentos a todos do amigo
Botelho

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal de 73

Hoje é noite de Natal!
Noite de silêncio!
No coração dos homens o desejo; de alegria, de paz e de amor.
Foi assim há 35 anos numa noite cálida e tranquila, algures nas matas do Nengo, que a CART 3514 celebrou o seu 2º Natal em terras angolanas. Foi uma noite diferente. Uma noite em que, de forma especial, nos tocou o coração inebriando a alma. Foi uma festa. Uma pequena grande festa.
Reunimo-nos no espaço do refeitório. Fizémos uma ligeira ornamentação para criarmos ambiência. Só o necessário para o enquadramento desejado: Três armas metralhadoras G3 ensarilhadas e envolvidas num laço vermelho colocado junto aos tapa-chamas, uma vela acesa. Ambiente simples, real, cheio de força e de meditação. Simplesmente divinal!
Devidamente aprumados, lá estava o nosso Grupo Coral - o da CART 3514 -.
Apresentámos uma tômbola de canções, misturando as clássicas de Natal com outras ditas de intervenção ou resistência. O que não valeu termos tido o Comandante que tivémos...
Já era assim, mesmo antes do 25 de Abril, que entendíamos, ainda que de forma ingénua, a realidade politica portuguesa e a malfadada guerra colonial. Deste modo, nada mais lógico do que cantarmos o "hino da revolta" do Francisco Fanhais: "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. A bomba de Hiroshima, vergonha de nós todos, reduziu a cinzas a carne das crianças".
Assim se abriu o nosso humilde mas entusiástico recital, passando-se de seguida para as melodias natalícias, com letras adaptadas à realidade de então como; "Homens da terra jamais, jamais a guerra. Natal, natal justiça e paz. Natal, natal, nasceu o Redentor".
De facto Ele, no seu tempo, foi o redentor. Para os crentes - e o Natal é a festa dos cristãos - Ele foi o libertador do seu povo. O revolucionário que pôs em causa todos os cânones farisaicos de então, deixando uma mensagem de luta e esperança, aos pobres e aos oprimidos do jugo esclavagista.
Ainda hoje estou vendo e ouvindo aquelas vozes firmes e estridentes do Botelho, do Dinis, do Paulo Ribeiro e de tantos outros, cheias de juventude, de energia, de garra e de amor.
Valeu a pena esta experiência que certamente terá ficado gravada no consciente de todos nós.
Tal como ontem, hoje também é um dia especial. É dia de Natal...
Votos de um Santo Natal para todos os companheiros da CART 3514 e suas familias.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Notas Soltas

Pois é! Há cerca de 3 semanas que não visito o nosso blogue. Desde que foi criado, é a primeira vez que me acontece uma ausência tão prolongada, muito por culpa de afazeres profissionais e alguns pessoais.
Estava ansioso por voltar a navegar nos pedaços de memória que cada qual aqui vai registando, alicerçando desta forma momentos únicos de vivência solidária construida há tantos anos, mas que perdurarão para todo o sempre no consciente profundo do nosso ser.
Algumas novidades aqui observei. De entre elas destaco;
1 - Morte do Zé Abreu.
Que momento triste! Estava eu entrando num restaurante com mais cerca de 20 colegas de trabalho para confraternizarmos num jantar de Natal em Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel, quando soube da noticia através do João Medeiros e, de seguida, pelo Carvalho. Sinceramente não esperava que tal acontecesse pois, aqui e ali, ía sabendo dele e do seu estado de saúde, levando-me a acreditar que voltaríamos a abraçá-lo no próximo encontro de 2009. Pior ainda quando soube que faleceu, não pela doença que o afectou nos últimos anos, mas por outra que, supostamente, ninguém esperaria.
O meu primeiro gesto foi o de erguer ao Alto o meu sentimento divino, só que, enquanto o fazia, mentalmente recordava-o com o seu ar alegre de menino, sorriso rasgado, olhos brilhantes, de calções e T shirt branca gravada com o logotipo dos Panteras Negras, chutando a bola num campo de futebol qualquer, provávelmente, no de Gago Coutinho.
É esta a imagem que retenho do Zé e é com ela que a quero ver, sempre, registada na minha memória.
Para a família enlutada um abraço emocionado de profundo pesar.
2 - Encontro com o João Medeiros
Quem diria que, ao entrar num restaurante em S. Miguel, à minha frente, se encontrava o companheiro João Medeiros e sua família em jantar informal, comendo um belíssimo peixe grelhado?
Alongámos o jantar com um grande e afectuoso abraço, cheio de uma amizade profunda que sempre nos uniu desde que nos conhecemos em terras algarvias no 2º trimestre de 1971.
Espero que a sua filha e esposa o vá obrigando a ser presença mais assídua no nosso blogue e que o faça transpôr para estas páginas, tantas e tão belas e alegres imagens que dele, todos nós temos, que muito nos fizeram rir nos momentos mais sórdidos por que passámos em África.
3 - Contacto com o Carvalho
A seguir ao jantar, passeando à noite na avenida da bonita cidade de Ponta Delgada, recebo uma chamada do Carvalho confirmando a noticia do Abreu, estranhando por outro lado a minha ausência do blogue e anunciando que o Botelho queria falar comigo. Solicitei-lhe o contacto e lá fui, agora no Hotel, atrás do amigo Botelho.
4 - Alô, alô Botelho!
Era ele mesmo. De voz inconfundível ali estava o homem de carne e osso. Nem dava para enganar ou sequer duvidar. Espantoso que após tantos anos, era a mesma pessoa. Lá conversámos algumas coisas, esclarecemos outras e apalavrámos encontro para finais de Janeiro, altura em que voltarei, em serviço, à sua ilha. Vou levar o João comigo. Combinado? Um parêntesis para dizer-lhe que só hoje li os E.Mails que me enviou. Desde final de Novembro que não consultava o correio electrónico pois utilizo mais um outro endereço. De qualquer forma irei responder, por essa via, aos seus E.Mails.
5 - Surpresa Manuel Monteiro
Bravo companheiro! Que agradável surpresa ver-te - ainda que com aspecto jovem - e ler-te no nosso blogue. Gostei do que li sobretudo pela forma enfática como demonstras sentir o afecto pelos teus companheiros de outrora, fruto daquilo que sempre foste enquanto homem: pessoa simples, de sorriso aberto, franco, amigo, solidário, razões mais que suficientes para termos de ti uma excelente imagem. Espero que, no próximo encontro, possamos dar aquele abraço...
6 - De novo o César
Mais um escrito do César recheado de fotos comprovativas do evento mencionado. Gostei muito de ver camaradas do meu pelotão empenhados na tarefa de conseguir passar um noite de Natal o mais alegre possível, no acampamento da latriteira.
Estávamos no Natal de 72! Recordo-me da excelente ementa, dos preparativos mencionados pelo César e da nostalgia de vivermos um Natal naquelas condições.
São momentos sublimes, inimagináveis até, aqui trazidos à memória de nós todos, que contribuiram também por nos ajudar a crescer como cidadãos e como HOMENS, fortalecendo a nossa honra e dignidade, numa tríade de sentimentos contraditórios de revolta, liberdade e sensatez.
Um abraço e... até breve.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal de 2008

Administração deste Site, deseja a todos os Cibernautas que nos visitam habitualmente, em especial os nossos ex-camaradas de armas, famílias e amigos de Portugal, Açores, Cabo Verde, e no resto do Mundo, um Bom Natal e Ano Novo com muita saúde e felicidade.

Natal em Gago Coutinho

Crianças da província festejam Natal em Lumbala Nguimbo
Trezentos petizes dos municípios dos Bundas, Kamanongue e Moxico(sede) participaram, domingo último, na sede municipal dos Bundas (Lumbala Nguimbo), da festa do Natal antecipado, organizado pela Direcção Provincial do Instituto Nacional da Criança (INAC).
No acto, que se registou pela primeira vez na história da província, em que crianças de várias circunscrições se reúnem para festejar o dia da família, os participantes, brincaram, declamaram poesias, cantaram e exibiram danças modernas e tradicionais ao ritmo folclórico da região.
Orientada pela directora provincial da Assistência e Reinserção Social (Minars), Ana Filomena Chipoia, em representação da esposa do governador provincial, Isabel Baptista dos Santos, a cerimónia foi marcada com a leitura de uma mensagem de felicitações das crianças.
Na mensagem, os petizes solicitaram ao governo local que no próximo Natal/2009, sejam concentradas numa única localidade, crianças dos 09 municípios que compõem a província para juntos brindarem.
Louvaram a iniciativa do governo e os esforços empreendidos na recuperação das infra-estruturas sociais a nível da província, sobretudo, na criação de novos estabelecimentos de ensino, hospitais, áreas de lazer e outros locais de interesse público.
Pediram igualmente a colocação de novos professores em todas escolas para fazerem face a explosão escolar no próximo ano lectivo, tendo em conta o enquadramento de crianças que se encontram fora do sistema normal do ensino, bem como aumentar enfermeiros para cobrir a rede sanitária em todas as circunscrições.
Em resposta, Ana Chipoia, disse que a reabilitação e construção de mais escolas e Postos de Saúde, nas distintas localidades desta província, consta das prioridades do Programa do Governo Provincial para o ano 2009.
“O governo estará sempre empenhado na criação de condições necessárias para melhorar a vida das populações, em especial das crianças” frisou a responsável do Minars, manifestando o desejo de ver os petizes a viverem saudável, instruídas e felizes para o seu bem-estar social.
Na cerimónia de apresentação dos cumprimentos de fim do ano, o governador provincial, João Ernesto dos Santos "Liberdade", anunciou como prioridades no programa do governo local, os sectores da Educação, Saúde, Energia e Águas.
Adiantou que serão reabilitadas escolas de diferentes ciclos e centros de saúde e construção de outros, com vista a oferecer aos educandos um ambiente tranquilo, sereno e propício à aprendizagem.
O governante indicou que o programa prevê ainda a reabilitação de varias infra-estruturas para facilitar o crescimento rápido da província.
noticia AngolaPress

sábado, 20 de dezembro de 2008

Ano Novo 73/74 /Nengo

Na imagem os camaradas António Duarte, Fonseca Marques, Dias Monteiro, Botelho, Diogo, Barros e Vicêncio Carreira

Caros Amigos:
Aqui me tem novamente para recordar este momento da passagem do ano de 73/74 (quase 35 anos), mas que estarão sempre presentes nas recordações de todos nós que fizemos parte desses mesmos acontecimentos que, mal-grado as circunstâncias, serão lembrados enquanto viver um de nós.
Também é motivo da minha presença o "post" recém publicado pelo amigo Carvalho, mas escrito pelo amigo Monteiro e quero manifestar-lhe a minha satisfação pela sua aparição neste "blog" e agradecer-lhes as palavras que me dirige e muito mais ainda por me dar o elogioso epíteto de "muito miliciano". Quanto ao restante, nada mais fiz que o meu dever. Mas não quero deixar de dizer-lhe que ele não foi o primeiro a dar-me tal rótulo, pois a verdade é que o primeiro a dar-mo não foi com boas intenções, pois que essa atitude partiu de um camarada do QP que se foi queixar de mim ao Cmdt de Compª, dizendo-lhe que eu não acamaradava com o pessoal do QP, mas sim com os milicianos. Pudera não!... Os queixosos estavam permanentemente metidos dentro do "arame" e eu, como furriel recém promovido estava contínuamente em operações com os milicianos, pois quando isso aconteceu, foi na minha primeira comissão (Bastante dura!...) e até parecia que os Comandos queriam terminar a guerra, sobrecarregando-nos com operações a todos os níveis (ZMA, Sector, Batalhão e até a Companhia)... Mas isto já está a fugir ao que interessa!... Sei que o Monteiro visita este "blog" e quero dizer-lhe que vou "cobrar" a promessa que fez no seu escrito e transcrevo" Sou capaz de lhe oferecer uma primeira edição do Dicionário com a nova grafia do Acordo, quando ela sair".
Falando agora de outro assunto e sobre a foto que anexo, os figurantes são: Duarte, Marques,
Monteiro, Botelho, Diogo, Barros e Vicêncio Carreira. A foto foi tirada em frente da messe de Sargentos, na passagem de Ano de 73/74.
Botelho

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Natal é uma festa de família


De Manuel Dias Monteiro
O Natal é uma festa de família.
Esta frase, que tantas vezes ouvimos, para mim, terá ainda mais sentido, porque uma família especial a «CART 3514» torna a próxima noite de Natal muito, muito diferente das pretéritas, na saudade e na recordação.
Esta família foi há muitos anos atrás, durante duas noites também de Natal, numerosa na sua constituição, que não vivia num estábulo mas em humildes condições, todavia não deixou de constituir sempre o seu estereótipo de “Natal”, sem deixar de transmitir uma mensagem de generosidade e amor.
Porque somos muitos a fazer parte desta mesma família «CART 3514» o seu Blog passou a ser ponto de encontro e referência. Assim, aproveito esta via e a época para saudar todos os camaradas em geral a quem quero aqui deixar desejos de Bom Natal e muita saúde, e às suas digníssimas famílias. Para os editores desta página, um bem hajam e uma saudação especial, por serem as alavancas desta obra que nos reconforta a todos .
Ao César Correia, as minhas desculpas, por não me lembrar dele. Por muito que olhe para as suas fotos, não o consigo descortinar nas minhas memórias, todavia um forte abraço, tanto pelo seu contributo presente como pelo do passado; Ao Octávio Botelho (haja respeito, na época era o nosso 1º Sarg, mas muito miliciano) um grande abraço do fundo do coração. De certeza que ainda lhe vou oferecer a 1ª edição do dicionário, logo que ele saia, com o novo acordo ortográfico, era o homem que sabia a etimologia de todas as palavras, ele era ÚNICO, além do mais um bom amigo; Ao António Soares, camarada distinto na sua amizade, muito solidário, faceta vincada pela sua origem insular, um abraço muito grande do tamanho dos anos que já passaram sem nos voltarmos a encontrar; Ao António Carvalho, ribatejano de gema, e como tal , habituado à largueza e à liberdade das campinas da sua terra, indomável, capaz de vencer todas as adversidades para conseguir os objectivos a que se propõe, um abraço e o meu MUITO OBRIGADO, por teres lançado o BLOG sobre a «CART3514» “panteras negras”, para fazer lembrar a todos os camaradas que toda a nossa vida é uma primavera, temos em nós saudade e RECORDAÇÕES que não envelhecem E a saudade anima toda a nossa caminhada”.
Monteiro
ps- O Camarada Manuel Dias Monteiro era furriel miliciano do 4º Pelotão, participante nos convívios anuais desde a primeira hora, nortenho de nascença, vive actualmente em Matosinhos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Natal de 1972 no Mussuma

De César Correia

Não há festa com brilho se não vestirmos a roupa domingueira, e esta rapaziada "num lugar no meio do nada, de noite á luz da candeia", não fugiu á regra, trajados a rigor para a tradicional ceia de Natal. Na imagem em cima: Ruivo, Carmo, Vilaça, Resende, Encarnação e Silveira, em baixo: Cruz, César Correia e Adriano Mendes

Na imagem os camaradas Isidro Ribeiro, Resende, Encarnação e Correia na preparação do menú para a consoada

Na imagem os camaradas Pires, Resende, Correia, Vilaça, Silveira, Rodrigues, Encarnação, Santos, Cruz e Isidro na confecção dos fritos de Natal

Foi o meu primeiro Natal passado longe de casa, agora na companhia desta nova família de adopção, o meu 2º Pelotão. Uma grande família, a que pertenço por direito próprio, que muito me honra e orgulha, chamada CART3514 desde há trinta e seis anos, que foi e será sempre, um simbolo de camaradagem e respeito, enquanto perpétuar na nossa memória as vivências desse tempo.
Estávamos na quadra natalícia, acampados no destacamento da latriteira, situado na margem direita do rio Mussuma, em plena mata, não muito longe de Gago Coutinho.
Apesar de algum desânimo e tristeza que nos invadia o âmago e nos roía a alma, nestas datas festivas, a tradição de comemorar o Natal foi mais forte, a camaradagem existente e a vontade de esquecer as mágoas, ajudaram a fazer a festa da consoada. Juntámos entre todos as nossas parcas economias e conseguimos o suficiente para comprar uns leitões num musseque da Vila a um indígena local, que depois de arranjados e temperados á maneira, pelos companheiros Isidro Ribeiro, Resende, Encarnação e Correia, foi assado num forno improvisado, construído a partir dum bidão de chapa e algum barro.
Bem assado que ele estava, a pele tostadinha e crocante, não havia crise de lenha. Os algarvios Pires e Rodrigues, mestres da especialidade, trataram da massa para fazerem as filhoses e os cuscorões, com a colaboração dos restantes, ocupados na preparação do repasto, comprámos também vinho verde tinto Lagosta, foi um Natal sem presépio, sem missa do galo, sem prendas no sapatinho, mas com espírito natalício, diferente do habitual, mas não menos vivido. Depois da ceia, os companheiros Cabo-Verdianos animaram a noite em volta da fogueira, cantando mornas, coladeras e canções natalícias, ao som dos seus cavaquinhos, eu próprio cantei umas quadras das Janeiras á moda da minha aldeia. Mas as saudades e o tinto, quebraram a postura, a ansiedade veio ao de cima, escusado será dizer, muitos de nós acabaram a festa a chorar as suas mágoas e tristezas. Gosto de recordar este episódio...! Mas não é saudade...! Apenas e só uma grande amizade.
BOM NATAL A TODOS

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Exemplo acabado do estado de "saúde" da imprensa

16:47 (3 horas atrás)
Camaradas veteranos de Ultramar

Relacionado com recentes declarações públicas do sr. António Lobo Antunes, aqui se reproduz, para informação e benefício dos visitantes do vosso blog CArt3514.blogspot.com, o seguinte:

Ontem à noite, pela internet enviei ao CM online réplicas à "treta" que o ALA proferiu em Guadalajara e em 08 reproduzida por aquele mesmo jornal diário: 1 - A primeira, às 00:41 (de hoje 15 Dez 2208), mereceu a habitual msg automática «O seu comentário foi enviado com sucesso. Após a validação por parte da nossa redacção, ficará disponível online. Obrigado pela sua participação».2 - Regressado à mesma página para escrever três subsequentes "comment" (face à limitação dos 120 caracteres p/cada um), o texto da respectiva "notícia" já não era visível, apenas podendo ser lidos os 6 comentários que do antecedente estavam online. Apesar disso, às 00.46 procedi de idêntico modo [mesmos nome e email], com a primeira de três outras questões: «O cmdt da CArt3314 era o capitão Melo Antunes (apenas enquanto no sudeste angolano). Terá ele também "matado" muito?». Mas logo após clicar no "enviar", surgiu automaticamente um endereço
http://www.correiomanha.pt/errorpage.htm?aspxerrorpath=/Comentar.aspx
com uma página totalmente em branco, encimada por aviso - nunca antes lido em parte alguma - «Sistema Sobrecarregado. Por favor tente mais tarde.»
Hoje (15Dez2008) por diversas vezes (a última das quais às 16:14) e usando browsers diferenciados, repetido procedimento idêntico ao anterior, a frase «onde se deslocou para receber o prémio da Feira Internacional do Livro de Línguas Românicas, e falou da sua experiência na Guerra Colonial», pesquisada no google já nem sequer aparece na cache daquele CM online, mas tão somente em uma imediata e única referência, na cache relativa ao Ultramar.Terraweb http://216.239.59.132/search?q=cache:smHgBYFmrKoJ:ultramar.terraweb.biz/+%22onde+se+deslocou+para+receber+o+pr%C3%A9mio+da+Feira+Internacional+do+Livro+de+L%C3%ADnguas+Rom%C3%A2nicas,+e+falou+da+sua+experi%C3%AAncia+na+Guerra+Colonial%22&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=1&gl=pt
à qual se seguiu «consulta, incluindo os resultados omitidos» que apenas "remetem", entre outros inconclusivos resultados, para o mesmo CM online (?), destacando-se o endereço deste vosso blog
http://cart3514.blogspot.com/2008/12/lobo-antunes.html o qual é, neste momento, o único local onde ainda pode ser lido, na íntegra, o texto original - de facto "original" (!!) - das declarações do multi laureado ALA.
Assim, considerando que em Jun-Out72 a vossa CArt3514 esteve aquartelada em Gago Coutinho (cerca de 5 meses após o sr. António Lobo Antunes dali ter marchado para a "mais calma" (?!) "zona" de Marimba), e face à impossibilidade de "comentar", no devido local, as gravíssimas acusações que aquele indivíduo lançou aos seus camaradas-de-armas, directos e indirectos - designadamente:
«uma "guerra de crianças" (por causa da idade dos soldados) e [...] que, para ser transferido para uma zona mais [!?] calma [distrito de Malanje], o seu batalhão [BArt3835-GACA2] matou indiscriminadamente. "Matava-se tudo, não se faziam prisioneiros".»
1 - Seria interessante o CM perguntar aos homens da CArt3313, das referidas "matanças"...

2 - O cmdt da CArt3314 era o capitão Melo Antunes (apenas enquanto no sudeste angolano). Terá ele também "matado" muito?

3 - As «crianças» do BArt3835 mataram «indiscriminadamente»?! Quem tão gravemente acusa, faz prova. De contrário...

4 - ... aquele celebrado escrevinhador arrisca-se ao epíteto, no mínimo, de celebérrimo aldrabão!!!

Melhores cumprimentos
Abreu dos Santos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Adeus Amigo Zé Abreu

Faleceu, no dia 12-12-2008, o nosso camarada José Alexandrino Abreu

Acabei de chegar de Beja onde me desloquei esta manhã com os camaradas, César Correia , Bernardino Careca, Porfírio Gonçalves, Parreirinha, Carocinho e Manuel Parreira, para nos despedir-mos e prestar homenagem ao amigo Zé em nome de todos os seus camaradas da Cart3514 e acompanhá-lo nesta derradeira viagem da sua vida.
Levar uma palavra de carinho, de conforto e solidariedade neste momento de grande dor e angústia a todos os seus familiares em especial á sua Esposa, Filhas, Genros e Neto, que o Zé tanto adorava e falava com paixão desmedida, sempre que a eles se referia, nas nossas conversas de ocasião.
Falei com o Zé á poucos dias pelo telefone, comentava entusiasmo o nosso próximo encontro em Maio, falava da sua vida com muita tranquilidade, falava dos seus projectos com convicção e determinação, como foi sempre seu apanágio, lembrarei sempre a sua mensagem na hora de pousar o telefone "Carvalho não se esqueçam de mim, telefonem quando quiserem, eu estou sempre aqui por casa".
A mensagem da sua filha Xana, foi uma surpresa dolorosa para todos nós, nada fazia prever este desfecho, o estado emocional e a voz embargada dos camaradas com quem ontem falei, demonstravam a amizade e o respeito que nutriam pelo saudoso e amigo Zé Abreu.
Camarada Zé os amigos nunca morrem, ausentam-se, mas continuarão sempre presentes no altar das nossas melhores recordações.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Gago Coutinho

Lumbala Nguimbo
Os militantes, simpatizantes e amigos do MPLA no município dos Bundas, Moxico, foram instados ontem, segunda-feira, pelo II secretário do seu partido, José Miguel Mandunda, a engajarem-se com afinco na preparação das eleições presidenciais previstas para 2009. O político, que falava no acto de massas organizado por ocasião das comemorações dos 52 anos da fundação do MPLA, a assinalar-se a 10 de Dezembro, esclareceu a importância das eleições presidenciais e o papel desempenhado pelo partido no poder no país. Debruçou-se sobre a trajectória política e os feitos do MPLA, que permitiram a conquista da independência nacional, a 11 de Novembro de 1975, e encorajou os militantes a mobilizarem a população para os novos desafios.
Ainda para assinalar a data, os militantes do MPLA nos Bundas vão realizar campanhas de limpeza e embelezamento das principais artérias de Lumbala-Nguimbo, para actividades desportivas, culturais e recreativas.
Palestras de esclarecimento e encontros entre dirigentes, militantes, simpatizantes e amigos do partido constam igualmente no programa das comemorações do 52º aniversário do MPLA a que a Angop teve acesso.
noticia AngolaPress

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lobo Antunes

Entrevista polémica a jornal mexicano
08 Dezembro 2008
Lobo Antunes fala da Guerra Colonial. Tinha jeito para matar e não sente remorsos pelo que fez em Angola: é assim António Lobo Antunes, polémico na cidade mexicana de Guadalajara, onde se deslocou para receber o prémio da Feira Internacional do Livro de Línguas Românicas, e falou da sua experiência na Guerra Colonial.

"Eu tinha talento para matar e isso foi a coisa mais terrível que me aconteceu. Para morrer e para matar, eu era bom", disse o escritor ao diário ‘La Jornada’, descrevendo a luta em Angola como uma "guerra de crianças" (por causa da idade dos soldados) e falando do impulso para a vida que, durante um conflito, se sobrepõe a tudo.

"Na guerra, não te questionas se aquilo que estás a fazer é justo ou injusto. A única coisa que importa é sair dali vivo", afirmou, confessando que, para ser transferido para uma zona mais calma, o seu batalhão matou indiscriminadamente, matava-se tudo, não se faziam prisioneiros e, do outro lado, era a mesma coisa. E o pior é que não sinto culpa", concluiu o escritor.
in Correio da Manhã

sábado, 6 de dezembro de 2008

Documentos D´outrora (4)

O Bate Estradas

A Cart.3514 tinha como endereço postal o S P M 6026

Quem não se recorda dos célebres aerogramas, também conhecidos por «bate estradas» oferecidos gratuitamente, a todos os militares, destacados nas campanhas ultramarinas, que todos nós usávamos para enviar noticias aos familiares, namorada e amigos. Este meio de comunicação foi criado em 1961 por uma associação Salazarista denominada Movimento Nacional Feminino, que detinha os direitos e a responsabilidade na edição e distribuição pelas unidades militares nos vários teatros de operações. Este exemplar em anexo foi remetido do S P M 6026 (Cart.3514) e carimbado pelo Serviço Postal no PMC 206 (G. Coutinho) no dia 13.12.72 em Angola com destino a Portugal.
Apenas por curiosidade, muito deste correio era violado pela pela pide, e aquele que continha indiscrições ficava pelo caminho, e depois, havia normas a seguir, o remetente só podia incluir o Nome o Posto e o S P M, no destinatário em vez de Portugal escrevia-se Metrópole.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Mais um Prémio para Lobo Antunes

António Lobo Antunes recebeu, no sábado, na cidade mexicana de Guadalajara o Prémio Juan Rulfo, pela primeira vez atribuído a um escritor português. O Prémio Juan Rulfo, também chamado de Literatura e Línguas Latinas, foi atribuído ao escritor durante a Feira do Livro de Guadalajara, tida como o maior encontro editorial em língua espanhola. No seu discurso de agradecimento, Lobo Antunes atribuiu a importância da sua obra a dois episódios da sua vida, a saber, a Guerra Colonial em Angola e, no regresso a Portugal, o hospital psiquiátrico onde exerceu. Num caso como no outro, aprendeu muito e chegou mesmo a falar em ‘mestres’... 'Um doente esquizofrénico deu-me a melhor definição do que deve ser a literatura ao dizer-me: ‘Doutor, o Mundo foi feito do avesso’', recordou. O meu segundo mestre foi África que conheci durante a guerra no leste. Os africanos têm um sentido do tempo distinto do nosso. Tudo é presente. O tempo é a minha angústia maior', revelou.
Ps: O escritor António Lobo Antunes esteve em Ninda e Chiúme, no sub-sector de Gago Coutinho na Zona Miltar Leste entre Dez. de 1970 e Jan. 1972 como médico e militar no BART 3835 incorporado na Cart.3313, como aqui já foi descrito num artigo públicado em Agosto de 2008 com o titulo "Romance, Realidade ou Ficção ?"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Estórias de Évora (1)

Mapa da zona envolvente do Pólo Universitário na herdade da Mitra onde fizemos o I.A.O. em Dez. de 1971

Imagem obtida no penúltimo dia de I.A.O na Herdade da Mitra nas proximidades de Évora com alguns camaradas furriéis da Cart 3514 - Fila1: Duarte, Pereirinha e Soares. Fila2: Carvalho, Marques, Raul de Sousa e Medeiros. Fila3: Arlindo de Sousa, Barros, Monteiro e Ramalhosa

Dezembro de 1971
37 anos depois, parece que foi ontem, estávamos no RAL3 em Évora, praticamente no final da formação, preparação e instrução da Companhia, com embarque para Angola, previsto para Janeiro de 1972. Tínhamos iniciado a semana de campo nos primeiros dias de Dezembro, nesta época o Alentejo é muito frio, a paisagem monótona e agreste da manhã, com os campos cobertos dum manto branco de geada e o ar gélido, eram o inimigo principal dos cento e setenta homens que compunham o efectivo da Cart3514. Acampados no mato, em tendas de três panos, muito rudimentares, com muito pouco, ou nenhum conforto, mal agasalhados e alimentados, ali para os lados de Valverde, na Herdade Estatal da Mitra a fazer o I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), em manobras e exercícios militares com fogo real, que antecedia a partida para a Campanha Ultramarina. Lembro hoje aqui alguns episódios com a sua graça, mas descabidos, reconheço, próprios da nossa juventude, passados nessa longa e penosa semana.
Todas as madrugadas saía uma viatura para Évora buscar o pão, e num dos regressos o Beja que já tinha em dias anteriores estudado um "objectivo" á beira do caminho, aliciou os camaradas, Medeiros, Carrilho, Milo e o Revés, a fazerem um golpe de mão num galinheiro do Monte das Flores, aproveitando a penumbra da alvorada, conseguiram chegar ao interior através duma entrada nauseabunda, de escoamento de água e dejectos, a operação esteve em risco de abortar, mas o sacrifício e a vontade inabalável do Revés, rendeu meia dúzia de galinhas e um ganso, que marcharam em silêncio, para a cozinha do acampamento. Era Sábado, e outro golpe já estava em marcha, este engendrado pelo Manel Parreira e pelo Parreirinha das Trms. que era doido por caça. Na periferia da Herdade da Mitra, existia um "couto de reserva" onde havia coelhos aos pontapés, simulando uma qualquer patrulha ou operação de rotina, uma meia dúzia de companheiros de G3 na mão, invadiram a herdade, atrás dos orelhudos, alguns a tiro, outros arrancados das locas, fendas e cavidades entre as pedras, com um primitivo arpejo de arame farpado, muito em uso no Alentejo.
No regresso, com as mochilas bem abonadas, somos interceptados pelo IN, um Guarda Florestal responsável pelo couto atravessa-se á nossa frente, e do alto da sua montada, espingarda em riste, berra ao pessoal, estão lixados, isto é uma propriedade privada, vocês não podem andar aqui aos tiros e a caçar, o Manel Parreira que se tinha emboscado atrás duma giesteira, numa manobra de dissuasão, lança uma granada de instrução, para as patas do cavalo, a explosão o pó e a confusão, espantam o animal que arranca a galope matagal abaixo, com o Guarda pendurado na garupa.
No dia seguinte Domingo, em concluiu com os cozinheiros, os coelhos as galinhas e o ganso, acabaram de reforço ao rancho para o almoço. A meio da manhã o tacho começa a cheirar a esturro, uma queixa do Q.G. chega ao Comandante da Companhia, acerca da invasão abusiva da Herdade, motivo pela qual fomos avisados e advertidos das consequências do acto, mas como estavam no campo mais duas companhias a 3515 e a 3516 também em exercícios e manobras, não seria fácil chegar aos autores da delituosa ocorrência, ficámos á vontade, não de consciência tranquila como é óbvio. Toca o clarim para o almoço e para nosso espanto, o nosso Capitão aparece acompanhado do Comandante do RAL3 e sentam-se á mesa, instala-se o "pânico" entre os artistas do dia anterior, só havia uma saída, comer e calar, também o nosso "Maior" ficou mudo e quedo quando detectou no prato, carne de caça, pelo contrário, o Com. do RAL3, raposa velha e astuto, com muitos anos de tarimba naquele ripado, saboreou o repasto com prazer, fazendo no final um breve discurso de circunstância, com alguma ironia á mistura sobre o menu, sorriu e agradeceu a deferência, pela qualidade do rancho com que foi presenteado, chegando mesmo a questionar se tinham adivinhado a sua presença no almoço...! Hoje dá vontade de rir, mas aquele almoço foi dos mais difíceis de roer e de engolir....!