o0o A Companhia de Artilharia 3514 foi formada/mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira Nº 3 em Évora no dia 13 de Setembro de 1971, fez o IAO na zona de Valverde/Mitra em Dezembro desse ano o0o Embarcou para Angola no dia 2 de Abril de 1972 (Domingo de Páscoa) num Boeing 707 dos Tams e regressou no dia 23 de Julho de 1974, após 842 dias na ZML de Angola, no subsector de Gago Coutinho, Província do Moxico o0o Rendemos a CCAÇ.3370 em Luanguinga em 11 de Abril de 1972 e fomos rendidos pela CCAÇ.4246 na Colina do Nengo em Junho de 1974. Estivemos adidos em 72/73 ao BCav.3862 e em 73/74 ao BArt.6320 oOo O efectivo da Companhia era formada por 1 Capitão Miliciano, 4 Alferes Mil, 2 1º Sargentos do QP, 15 Furriéis Mil, 44 1º Cabos, 106 Soldados, num total de 172 Homens, entre os quais 125 Continentais, 43 Cabo-Verdianos e 4 Açorianos» oOo

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Memórias do Leste de Angola - O "Luthier" do Nengo"


- O “Luthier” (*) do Nengo)
Eis-me aqui de novo para recordar uma das histórias ocorridas durante a nossa permanência na ZML(Zona Militar Leste) de Angola.
De certo, interrogar-se-ão: - Que quererá dizer o autor deste articulado com o
subtítulo que lhe põe?…
Concordo que poderá parecer um tanto descabido!...Mas tenham um pouco de paciência, porque o assunto ficará completamente esclarecido, depois de eu contar a “história”, que não é da Carochinha, mas uma ocorrência real , passada durante a nossa comissão em Angola!...
E, sem mais preâmbulos, passemos ao episódio em questão:
Todos sabem que quase metade dos nossos efectivos em Praças, era constituído por cabo-verdianos e também que alguns desses rapazes tinham uma natural propensão para música, em especial pelos ritmos da sua terra e que eles não perdiam as possíveis oportunidades para manifestarem essa sua inata aptidão ajudando, com isso, ao desanuviamento do ambiente próprio de um cenário de guerra como era aquele em nós todos estávamos envolvidos.
Mas tinham deficiências e faltas nos instrumentos musicais que possuíam e as suas exibições perdiam alguma qualidade devido a essas faltas. Entre essas faltas, avultava a indispensável existência de um violino!.. O restante instrumental típico dos ritmos de Cabo Verde existia ou era de fácil improvisação, faltando apenas o imprescindível violino!...
Mas, para todas as dificuldades, há sempre uma saída e ela surgiu e foi magistralmente resolvida por um graduado da nossa Companhia que, sabendo dessa dificuldade, se prontificou a resolvê-la, fabricando, por meios expeditos, o instrumento em falta! É claro que não o fabricou em madeira, pois a que era própria para isso não existia no local, nem ele era, tampouco, especializado no fabrico de violinos!...Mas, sim conseguiu fabricá-lo, imaginem, com folha de flandres, de latas de leite em pó, vindas da Lacto Açoriana, da Ribeira Grande, donde era originário o leite que usámos durante todo o tempo da nossa Comissão!... E imaginem mais!... O “design” do instrumento por ele fabricado, como já disse, com latas de leite em pó, era a perfeita imitação dos correspondentes reais, tanto na forma, como no tamanho, que era o de um 1º.Violino, que é daqueles instrumentos, o que tem o som mais agudo. O instrumento, depois de fabricado, com solda de estanho e folha de flandres, foi encordoado e foi também arranjado um arco para tocar o violino que foi, imediatamente testado e, maravilha!...funcionou mesmo e com uma sonoridade que, embora não sendo a de um “stradivarius”, era bastante aceitável e parecia muito ser o de um verdadeiro instrumento.
Ainda hoje me pergunto onde foram arranjar as quatro cordas para o violino, assim como as cerdas para a construção do respectivo arco!...E das duas uma: ou tinham trazido com eles de Cabo Verde esses materiais ou os adquiriram, certamente, no Luso!...
Falta agora revelar o nome do Graduado que, tão magistralmente, resolveu o problema orquestral dos cabo-verdianos que, daí em diante, nos presentearam com os seus concertos de “mornas”, “funaná”, “coladeiras”, etc., etc…., de muito boa qualidade, contribuindo assim e muito para o desanuviamento psicológico de toda a CArt 3514!… E agora sim, a revelação do nome do “luthier” do Nengo: Foi ele o nosso Fur.Mil./Tms João Osvaldo Moniz Medeiros, meu conterrâneo!...Foi ele quem se deu ao trabalho de construir o célebre violino de lata, que desenrascou o problema dos cabo-verdianos que, como nós, são ilhéus também, mas com uma diferença enorme no respeitante aos ambientes das nossas ilhas: As nossas, são um paraíso e as deles, são muito pouco parecidas com as nossas, sendo a maioria, de origem vulcânica e quase desertas e com raríssimas precipitações pluviais, o que fazia com que, no acampamento e na época das chuvas, quando haviam aquelas precipitações diluvianas, se atirassem, como vieram ao mundo, para o meio das chuvadas, cantando e saltando, como crianças no meio daquelas bátegas, banhando-se, deliciados, com a água vinda dos céus!...
Esta “história”, demonstra o que poderá ser feito em muitas áreas, desde que haja um mínimo de solidariedade e vontade de ajudar àqueles que têm necessidade de ajuda!.. Serve ainda para realçar o espírito de prestabilidade que teve o Fur.Milº.Medeiros ao prontificar-se a dar a “mão” aos que dela precisaram, revelando assim o espírito de entreajuda que anima todos os ilhéus, em quaisquer situações. Por esta minha opinião, posso ser considerado suspeito, uma vez que também sou ilhéu e poderão dizer a meu respeito que “cada um puxa a brasa à sua sardinha”!...Mas a realidade não é essa mas sim, a de que não posso deixar no esquecimento a acção do Camarada Medeiros e, por esse mesmo motivo, a publico neste “post”!...
Este já está, fora do que é habitual, demasiado longo e, assim sendo, não quero prolongá-lo muito mais, para me não tornar fastidioso.
Termino, pois, enviando cordiais saudações para os colaboradores deste Blogue, para todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares e ainda para os eventuais visitantes do mesmo, quer estejam em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo.
Para todos um até breve com um grande abraço do camarada e Amigo,
Botelho
NOTA – (*) “Luthier”, palavra francesa usada para designar um fabricante de violinos e instrumentos afins, com o nome genérico de “cordas”.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Correspondente nos Bundas

De Izamba Kapalu
Meus amigos, estou muito alegre, novamente de poder receber a suas novidades, por favor que DEUS vos abençõe para sempre. Olha, vou tentar responder a algumas das suas perguntas, sim há muito tempo, foi para Angola dia 12 de Janeiro de 2010 por 21 dias e voltei para o BRASIL dia 02 de Fevereiro de 2010. Olha meu amigo, sim estou sempre aqui na cidade capital da República Federativa do Brasil (Brasília). O meu governo está á minha espera, só depois de cinco anos, ou seja estou estudando aqui no Brasil, por um período de cinco anos e já estão consumados dois anos, só me falta três..! Mesmo assim cada férias, de Novembro a Dezembro, estarei sempre indo para meu país...! Eu sou natural de Léua na Província do Moxico, mas trabalho em LUMBALA N'GUIMBO (Municipio dos MBundas) no Hospital Geral Municipal, desde 2006. Agora tenho trinta e cinco anos de idade. Sobre as noticias de Lumbala: - Saúde: um hospital geral, oito centros de saúde... -Educação olha já falei sobre isso nos e-mail passado... temos já uma nova escola... -Trabalho: fecharam as ONGs, só estão ali os funcionários públicos...! Policia, FAA, Saúde, Educação, DEFA,... -Cemitério: existe um lado dos antigos combatentes, e outro lado comum... -Sim senhor, a missão de S. Bonifácio ainda funciona e muito bem, tem um novo padre Africano, filho de Lumbala. Meus amigos, sempre mesmo assim, falta muita coisas mesmo para reconstrução de Lumbala Nguimbo.
Olha meu amigo, gostaria que o Sr. utiliza-se o "SKYPE", olha, o meu nome Skype é :" IZAMBA "Por favor tente adicionar o seu skype e vamos poder conversar ok..!
Cordialmente,
IZAMBA KAPALU.
NR: - (Conheci o Kapalu na net em Dezembro, depois de um comentário seu, feito num artigo do nosso blog, temos trocado alguns mail com regularidade. É funcionário do quadro dos Técnico de Enfermagem no Hospital Geral Municipal na antiga Vila Gago Coutinho e está á dois anos por conta do Ministerio da Saúde de Angola em Brasilia a estudar na área da saúde, após o segundo contacto ofereceu-se voluntáriamente, para colaborar e ajudar como amigo a fazer a ponte que nos une, trazendo ao nosso conhecimento, noticias do progresso e expansão daquele local que nos acolheu durante dois longos anos.)

Crónica de César Correia em 20 Nov 2008

De José da Cunha Ramalhosa
Li com atenção a crónica do meu camarada César Correia de 20 Nov. de 2008 e quero acrescentar com sua autorização algo mais. O Medeiros quando queria mudar de ares resolvia passar uns dias nos acampamentos com a rapaziada. Numa dessas alturas encontrava-se com os Camaradas no destacamento do 2ºpelotão. Recebemos uma ordem do nosso Comandante para socorrer-mos uma coluna do Batalhão que estava em dificuldade, com alguns feridos, causado pelo rebentamento duma mina AC. A nossa missão era recolher os feridos e transportá-los para a enfermaria do Bcav 3862 em Gago Coutinho. Rápidamente saltaram para a viatura uns quantos camaradas voluntários, o Carrilho mais o Medeiros, não tenho a certeza se o Brás nos acompanhou, quando chegamos ao local, não muito longe do nosso acampamento encontrámos um verdadeiro caos. Encostamos a viatura o mais possível aos camaradas feridos para os poder puxar para cima da Berliett. Foi nessa altura, que o nosso saudoso Carrilho ordenou, ninguém desce da viatura. Todos estávamos carregados de nervos e muito mais...!! Entretanto o Comandante do Batalhão queria saber via rádio o que se estava a passar. O nosso homem das transmissões ficou apático e sem reacção para responder e acabou por passar o rádio para as mãos do Medeiros. Entre muitas car....das e porras nada saia direito por mais que o Comandante insistisse em saber o que se passava no terreno. Com os camaradas encima da viatura arrancámos a grande velocidade e entramos no Batalhão bastante acelerados, onde nos esperavam muitos camaradas e principalmente o Comandante com cara de poucos amigos, veio logo ter connosco e perguntou quem era o comandante da coluna. Depois da apresentação mais uma pergunta, quem é o Fur. das Transmissões..? Foi direito ao Medeiros para lhe dar uma piçada, mas ao vê-lo tão nervoso e fora de controlo, resolveu e muito bem dar meia volta e não mexer mais no assunto.
Para todos um abraço.
Ramalhosa

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Luena-Moxico


22-02-2010
Polícia descobre esconderijos de armas nos municípios do Luau e Bundas
A Polícia Nacional no Moxico descobriu e desactivou de Janeiro até a presente data, nos municípios do Luau e Bundas, três esconderijos que tinham armamento de diversos calibres, indica uma fonte da corporação.
Segundo uma nota entregue hoje, segunda-feira, à Angop, o material letal descoberto nas localidades do Tchicumbi e Sachipeze (Luau) e do Lungue-Bungo (Bundas) continha mais de 20 armas, entre AKM, RPG-7, PKM, G3 e seis mísseis anti-aéreos.
Foram ainda encontrados 270 projécteis de morteiro de 82 milímetros, 13 rokettes, 64 carregadores de RPK e G3 e nove minas anti-pessoais, entre outros meios militares, todos em estado obsoleto.
Na descoberta deste material bélico a Polícia Nacional contou com a colaboração da população, na denúncia dos locais.
No período em referência, as forças policiais receberam 32 armas de diferentes tipos e calibres, que se encontravam em posse ilegal da população civil, sendo 26 no município dos Bundas e seis no Luena.
AngolaPress

Noticias de Lumbala Nguimbo


22-02-2010
Hospital dos Bundas -Assiste mais de 19 mil pacientes em 2009.
19.826 pacientes foram assistidos, em 2009, no Hospital Municipal dos Bundas, província do Moxico, dos quais 82 morreram, soube hoje, segunda-feira, a Angop de fonte sanitária. De acordo com o chefe de repartição de saúde na circunscrição, Jorge Daniel Kariata, os óbitos foram provocados por malária, tuberculose e infecções respiratórias agudas.
Dos assistidos, 446 pacientes apresentaram casos ligados a medicina, 921 de pediatria, 33 de cirurgia e os restantes têm a ver com a obstetrícia.
No período em análise, foram assistidos 150 partos que resultaram em 120 nados vivos e 30 mortos.
A referida unidade sanitária, a 356 quilómetros a sul do Luena, atende 50 pacientes por dia. Tem capacidade de internar 50 doentes e conta com um corpo clínico composto por 25 técnicos de saúde.
(noticia AngolaPress)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Camaradas: PRONTO..!!


De: José da Cunha Ramalhosa
Para cart3514@gmail.com
20:20 (há 22 horas atrás)
Sexta-feira 12 de Fevereiro
pelas 8 horas PM (hora local nos USA) toca o telefone. Do outro lado da linha perguntaram-me,"alô, és o Ramalhosa, daqui fala o ex-furriel Carvalho da Cart.3514, lembras-te de mim, concerteza que sim, a surpresa foi enorme, a alegria imensa, ele falava comigo e eu com um grande nó na garganta não podia falar, essa foi a razão da nossa tão curta conversa, perdoa-lá Carvalho. Há muitos anos atrás, ainda a viver na terra dos cangurus (Austrália), tinha feito algumas tentativas para encontrar o Carrilho e o Medeiros através da lista telefónica via NET, sabia que um familiar chegado do Carrilho era funcionário da CP, naquela altura em Pinhal Novo salvo erro, não foi possível e nos Açores há uma grande comunidade de Moniz Medeiros, depois de vários telefonemas nunca acertei no alvo, acabando por desistir. Logo a seguir ao telefonema corri para a NET e durante muitas horas vi e revi todas as fotografias antigas e recentes, li e reli tudo, mas mesmo tudo ficando feliz e impressionado com a exactidão dos locais e datas. Parabéns a todos pelo óptimo trabalho. Quero também aproveitar para enviar condolências ás Famílias dos nossos camaradas já falecidos. Todo o meu espólio de então, encontra-se guardado religiosamente na minha casa em Portugal, vou fazer os possíveis para o trazer para cá, afim de cooperar com todos vós neste lindo trabalho com algumas crónicas.
Um grande abraço para toda a rapaziada.
Até breve
Ramalhosa.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Recordações D´Outrora

CHIÚME  - Imagens da decada de 70
(Loc-geo no Google Earth -15 08 04.48, 21 10 35.76)
Situado na margem esquerda do rio Cuando, a 145 kms  a sul de Gago Coutinho e a 45 kms de Ninda, era o último destacamento a sul no Sub-Sector dos Bundas

 Imagem aérea da povoação do Chiúme

Destacamento militar

Comando do destacamento

Chiúme City

Aldeamento e a Capela do Chiúme

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Recordações D´Outrora

Vila Gago Coutinho hoje Lumbala Nguimbo
Esta imagem é propriedade dos"kamangas" da FAP , que estiveram na AM.44 em GC nos anos setenta. Reconheço a Igreja as instalações da TECNIL, o café do Castro, o antigo pelado onde fizemos grandes futeboladas, a rua principal da Vila ladeada, pelo comércio, a casa do Administrador, a PIDE e os habitantes brancos que aqui moravam, quando aqui chegámos em 72 só havia alcatrão da entrada da vila até á saída, quando partimos em Junho de 74, já havia asfalto do Nengo ao Luso

A Igreja da Missão de S. Bonifácio, que foi destruida na guerra civil de Angola após 1975.

As instalações da enfermaria na sede do Batalhão, obra edificada pela CConstr. 1708 em 1967

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Malta vai "Ressuscitando"


José da Cunha Ramalhosa
Dos "chefes" só faltava o nosso camarada do 2º grupo. Fur. Mil. de Op. Esp. Ramalhosa, mas este fim de semana recebi um mail da Junta de Freguesia de Lanhelas, a informar o nº telefone do seu conterrâneo domiciliado actualmente nos Estados Unidos da América, depois de ter solicitado junto da família o seu contacto e residência.
À meia dúzia de meses despertou-me a curiosidade de saber o paradeiro de um dos "Ranger" da companhia, (O outro era o alf. Rodrigues que também tinha essa carga genética) e sabendo a sua naturalidade, recorri á boa vontade do Sr. Presidente da Junta, a possibilidade de colher noticias junto dos familiares ainda residentes na freguesia, respondeu dias depois, que o Ramalhosa estava nos EUA, prometendo depois informação mais detalhada, telefone ou mail, entretanto, houve eleições autárquicas, passou algum tempo, mas não caiu no esquecimento, no interior ainda á homens de palavra, e quem promete raramente esquece. Falei com o Ramalhosa ao telefone, conversa curta e sintética, ficou um pouco estranho com o facto, não esperava, um rol de perguntas como é óbvio, está radicado em Elizabeth_New Jersey na costa leste a sul de New York, vamos aguardar e esperar por mais noticias, logo que faça uma consulta ao blog, e esperamos que sim.
Amigo Ramalhosa não te esqueças logo que possivel, enviar uma mensagem á rapaziada.
um abraço

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Caminho das Terras do Fim do Mundo (2)...

Creiam meus caros amigos, que nesta senda a que me propus e para a qual é preciso muito engenho, arte e acima de tudo temeridade, é coisa que me falta, uma vez que nunca me passou pela cabeça escrever, antes de colaborar neste blogue, o que quer que fosse sobre qualquer assunto. Acho não ter capacidade para tão altas cavalarias. Não me digam que é falsa modéstia, ou que me estou a "armar em intelectual", porque tal não é verdade!... Mas os incentivos, a insistência e as palavras animadoras, que desde já aqui quero agradecer, encorajaram-me a que me esforçasse a não fazer "má figura" e não desiludir ninguém.
Depois desta nota introdutória, voltemos ao verdadeiro tema: "...Tínhamos chegado ao Lucusse.
O LUCUSSE, situa-se numa região planáltica, a cerca de 1.300 metros de altitude. Dista centena e meia de quilómetros do Luso e duas centenas e meia de Gago Coutinho. Ficará para sempre ligada à história de Angola, por ter sido nesta localidade que a UNITA realizou a sua primeira acção armada em Setembro de 1966, prosseguindo as suas acções na picada do Luso/Gago Coutinho. Foi aí também que o líder da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, foi morto em 2002.
Depois de uma breve paragem nas instalações militares que aí estavam sedeadas, aonde todos chegaram maquilhados de pó castanho avermelhado, mas só alguns conseguiram uma "Nocal" ou "Cuca" para diluir alguma daquela "lama" que entretanto se foi formando na "goela", pela abundância do fino pó da picada.
A picada, a paisagem, a ansiedade e, porque não dizê-lo, um misto de medo e nervoso miudinho, fazia que verificasse tudo ao meu redor e muito atentamente. Mais estupefacto fiquei, quando chegámos ao Lungué-Bungo e reparei nas instalações exemplares do destacamento dos Fuzileiros, nas bonitas margens daquele rio, nas pranchas de salto, nos botes (Zebros) acostados à margem de um lado e outro da ponte...Ali a meio do caminho das Terras do Fim do Mundo, era um oásis que se me assomava, qual postal de um hotel de quatro ou cinco estrelas. Depois disto ainda pensava eu se tudo aquilo era real ou talvez uma miragem, fruto da poeira e do calor angolano que vai tisnando a pele, o corpo e até a alma. Mas de novo tive de voltar á realidade, continuar a rota, porque a picada (estrada de terra batida e outras vezes arenosa) e a paisagem não deixava caminho para dúvidas! Tínhamos regressado à aspereza inóspita das picadas do planalto angolano. A partir daí tudo foi igual até ao LUVUEI, onde se sediava a Companhia de Caçadores 3369.
O Luvuei fica situado em pleno coração da mata, completamente isolado do mundo, em que as cidades mais próximas, Luso e Gago Coutinho, se situam a mais de duas centenas de quilómetros, que tinham de ser percorridos por picadas, normalmente minadas. Talvez por isso, alguém tenha dito que era ali que começavam as "Terras do Fim do Mundo".
Ali chegados, "maçaricos" ou "mikes" como chamavam aos militares acabados de chegar do "Puto", fomos bem acolhidos pelos nossos camaradas já mais "velhinhos" da C.Caç. 3369. Depois de apeados do nosso transporte, foi verificado se todos os "ossos" do nosso corpinho se encontravam no devido sítio e em perfeitas condições, pois os saltos e solavancos que tínhamos suportado tinham sido de tal ordem que se justificava plenamente essa conferência.
Logo ali, se verificou o primeiro evento que não abonou nada em favor da nossa fiabilidade. Depois de todo o pessoal apeado das viaturas, foram dadas, a cada um, por motivos de segurança, instruções para que fossem tiradas as balas da câmara, das respectivas espingardas G3. No meio desta operação, que se pretendia ser de segurança, alguém por descuido ou nervosismo, fez um disparo fortuito, que ocasionou que os nossos camaradas " os velhinhos", se pusessem todos a"milhas" sem olhar para trás e nós levássemos a primeira vaia monumental de "maçaricagem". Acidente de percurso, que garantidamente não aconteceu pela primeira vez, nem seria pela última.
Por agora, ficamos pelo Luvuei, prometendo contar-vos o "baile" mais selecto que se pôde levar da tropa mais velhinha, na próxima oportunidade.
Até lá, um abraço para todos os que pertencem a esta grande família "Cart 3514", desejando-vos muita saúde.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma Cobra no Kimbo dos Furriéis


Julgo que foi esta cobra que entrou de madrugada no kimbo, a imagem foi feita pelo Carrilho que a pôs em exposição na manhã seguinte, em cima da caixa do correio á entrada da Secretaria do Comando, não tenho certezas.
Estávamos no final da época das chuvas, o calor durante o dia era intenso, mas ao final da tarde havia sempre disponibilidade para uma partida de voleibol num areal atrás da secretaria do comando ou uma peladinha no descampado atrás do paiol à entrada do destacamento, as noites eram amenas e calmas, e sempre que chovia ou corria alguma aragem no cimo da colina o clima resfriava bastante.
Depois do jantar, o pocker de dados, king, monopólio e lerpa eram passatempos de eleição, mas a leitura era um hábito contagiante, lembro-me daquelas quatro camas alinhadas no kimbo dos furriéis, com iluminação individual feita com garrafas de whisky recicladas.
É duma noite dessas que recordo uma cena rara, que acontece uma vez na vida, era uma da madrugada, por ai, não sei com rigor, o Carrilho dormia na primeira cama, o Soares na segunda, o Arlindo na terceira e eu na quarta encostado á parede do fundo.
O Carrilho tinha por hábito, sempre que queria dormir, chatear o parceiro do lado, fazendo cócegas no cabelo e no pescoço com uma cana de painço, forçando o términos da leitura e o apagar da luz, naquela noite todos dormiam excepto o Soares que deleitado com a cena do livro nem sequer se apercebeu da caricata situação, eu comecei a ouvir clamar, (Carrilho está quieto.., porra..., já apago…, espera é só acabar este capitulo..., é a ultima página…, só mais dois parágrafos…, está quase..,) acordo e vejo uma cobra apoiada no ferro da cabeceira da cama com a cabeça no ar atrás do pescoço do Soares, enfiada entre a sobreposição das chapas laterais da parede, meio dentro meia fora, gritei-lhe, está quietinho tens uma cobra por cima do teu ombro, não te mexas, ficou amarelo, verde, branco, todos acordaram e o Carrilho saiu lesto porta fora deu a volta ao kimbo, pegou na bicha pela cauda e puxou-a lá para fora, era um animal de respeito com quase dois metros de envergadura.
Foi um gozo, apesar do Soares ainda hoje dizer que não tem medo de cobras, e respeito, só aos ratos..! Após esta invasão sem aviso, forrámos as paredes interiores com uma esteira de dois metros de altura e tapamos tudo o que era buraco, nem escorpião tinha direito de entrar..!
Depois da parada pronta com o chão em latrite nivelado e compactado, a rotunda central, as paredes caiadas de branco, o final das obras e a limpeza imposta, acabaram praticamente com estas visitas inoportunas e fora de horas.
Adeus até ao meu regresso.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Retrospectiva 2



Desde o início da existência do Blog da Companhia de Artilharia 3514 que o nosso camarada António Rosado Carvalho se revelou como fundador e o mais sólido dos seus pilares.
Mas, já em África, lá nas Terras do Fim do Mundo, tinha ganho naturalmente o respeito, a consideração e a amizade de todos, não sendo alheias a esse seu merecido estatuto a inteligência, capacidade de trabalho, justeza e seriedade das atitudes , mas também a forma descontraída e brincalhona como contava as suas muitas histórias eivadas de um constante sentido de humor.
Voluntarioso, trabalhador e naturalmente muito organizado, pôs sempre ao dispor de todos nós o seu enorme talento em reunir, aproximar e procurar todos os nossos camaradas espalhados por esse Portugal e não só. Tenho a certeza de que na próxima confraternização aniversário da Companhia em Fátima certamente vai conseguir reunir o maior número de camaradas e das suas famílias, pois com o seu esforço e dedicação, vai sistematicamente "ressuscitando" colegas que não tinham conhecimento nem do "Blog Panteras Negras" nem desta nossa festa anual; Isso, deve-se em grande parte, à sua persistente e generosa acção.
Persistente, como os verdadeiros alentejanos sabem ser, tem um coração de menino sempre pronto a abraçar ou a ajudar aqueles que eventualmente por dificuldades ou vicissitudes da vida, lhe consta que, podem precisar de uma mão amiga.
Friso aqui, antes de mais, que isto que agora escrevo, não é um acto de bajulação, mas sim aquilo que sinto, e não devo ser caso único, pelo fundador deste Blog, que já com muitas carruagens como um comboio apanhei em velocidade de cruzeiro...
Depois do aqui fica dito, a retrospectiva do que já fizeste, valeu a pena e de que forma e a homenagem que te quero prestar está, passo a citar um pequeno excerto da prosa de António Lobo Antunes, que parece ter sido escrito propositadamente para este fim:
“...És meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo..
Para terminar um brinde ao Blog e de uma forma bem ao teu jeito :
"Adeus até ao meu regresso".