Qualquer assunto tem o seu tempo certo de ser falado. E mesmo quando a razão ou o motivo que lhe deu origem, se prolonga no tempo e nos força a tê-lo presente na nossa vida, a tentação de o tornar o centro daquilo que escrevemos, é uma coisa que podemos, temos e devemos resistir. Seja qual for a importância que o assunto tenha para nós, falarmos sempre dele, banaliza-o e acaba por ser insignificante aos olhos de toda a gente. Sem outros motivos, adio por agora, a senda a que me tinha proposto e em que vinha insistindo:" A Caminho das Terras Do fim do Mundo". Não respeitando pois, a partir de agora qualquer tipo de cronologia, passo a coisas mais leves e menos monótonas.
Pois hoje, lembrei-me de uma "estória" verídica, passada na minha recruta, sim porque eu também fui soldado recruta como qualquer outro, não era filho de nenhum general. E para quem possa não saber fiz a minha recruta num quartel de uma terra bem portuguesa - Caldas da Rainha - que além das suas belezas naturais das sua gente hospitaleira, era bem conhecida naquele tempo por um outro artefacto em barro que não importa aqui e agora descrever, mas cujo nome era muito pronunciado pelos monitores de instrução, variadíssimas vezes ao dia. Todos os meus camaradas que por ali andaram no primeiro turno do ano da graça (para mim foi uma desgraça, tive de ir para a tropa) de mil novecentos e setenta e um, lembrar-se-ão do Major Meirim, comandante das companhias de instrução. Todavia, não era esse o seu verdadeiro nome. Houve à época um treinador de futebol, de seu nome verdadeiro, Joaquim Meirim, que se dizia pouco ou nada ter praticado de futebol, todavia mercê das suas palestras e da acção psicológica que exercia sobre os seus jogadores, chegou a levar as equipes da primeira divisão nacional que treinou a obterem muito boas classificações. No Regimento de Infantaria nº 5, todos os dias na formatura geral depois do almoço, o tal Major, fazia a sua demorada palestra, ganhando por isso o apelido de Meirim. Num dos temas que o Meirim mais insistia era no aprumo e no respeito pelas patentes militares, em resumo na continência. Se a memória não me falha (e ela costuma falhar e muito, como diria o oficial de justiça de quem eu fui muitas vezes escrivão) na sexta-feira da segunda semana de tropa, foram distribuídas as espingardas G3. Sim, e já não era sem tempo. Então eu chego à tropa de manhãzinha, no princípio da semana anterior, e nunca mais me davam a espingarda, era mesmo falta de confiança.
Pois hoje, lembrei-me de uma "estória" verídica, passada na minha recruta, sim porque eu também fui soldado recruta como qualquer outro, não era filho de nenhum general. E para quem possa não saber fiz a minha recruta num quartel de uma terra bem portuguesa - Caldas da Rainha - que além das suas belezas naturais das sua gente hospitaleira, era bem conhecida naquele tempo por um outro artefacto em barro que não importa aqui e agora descrever, mas cujo nome era muito pronunciado pelos monitores de instrução, variadíssimas vezes ao dia. Todos os meus camaradas que por ali andaram no primeiro turno do ano da graça (para mim foi uma desgraça, tive de ir para a tropa) de mil novecentos e setenta e um, lembrar-se-ão do Major Meirim, comandante das companhias de instrução. Todavia, não era esse o seu verdadeiro nome. Houve à época um treinador de futebol, de seu nome verdadeiro, Joaquim Meirim, que se dizia pouco ou nada ter praticado de futebol, todavia mercê das suas palestras e da acção psicológica que exercia sobre os seus jogadores, chegou a levar as equipes da primeira divisão nacional que treinou a obterem muito boas classificações. No Regimento de Infantaria nº 5, todos os dias na formatura geral depois do almoço, o tal Major, fazia a sua demorada palestra, ganhando por isso o apelido de Meirim. Num dos temas que o Meirim mais insistia era no aprumo e no respeito pelas patentes militares, em resumo na continência. Se a memória não me falha (e ela costuma falhar e muito, como diria o oficial de justiça de quem eu fui muitas vezes escrivão) na sexta-feira da segunda semana de tropa, foram distribuídas as espingardas G3. Sim, e já não era sem tempo. Então eu chego à tropa de manhãzinha, no princípio da semana anterior, e nunca mais me davam a espingarda, era mesmo falta de confiança.
Edíficio do comando do ex-RI5, hoje Escola de Sargentos do Exército |
Pois é deram-me a arma e uma carga de trabalhos para o resto da tropa. E como isso não fosse suficiente, logo no Sábado já com vontade de vir de fim-de-semana e com a espingarda ao ombro, tive de ir ao WC’s municipais (WC’s gerais e enormes que ficavam junto ao bar, daí eu dar-lhe o nome pelo seu tamanho). No regresso, vejo a pouca distância aproximar-se um carro com o nosso Meirim. Primeira reacção: “estou tramado” (claro que tramado é a tradução possível que eu posso dar do que pensei, estas palavras no quartel e debaixo de pressão começam sempre por letras do abecedário - C ou F, - bem, leiam nas entrelinhas). Como vou fazer a continência e tenho arma? Faço com a arma? Mas eu não sei fazer com arma? (o soldado recruta, ainda não sabia que com a arma ao ombro em bandoleira se fazia a continência normalmente). Nesta angústia de ver o fim de semana, a liberdade de dia e meio a esfumar-se, utilizei a lei, que mais se aplica na tropa - LEI DO DESENRASCA. Enfiei antes que ele visse, a arma nos arbustos e quando o carro passou por mim , perfilei-me e aí vai uma continência com toda a pompa e circunstância, e um "muito bem" dito pelo Meirim, soou no recruta a um louvor, deixando-me com a cara estacionada no cruzamento entre a alegria do Meirim não me cortar o fim de semana por falta de uma continência bem feita e as picuinhices férteis no regime castrense .
Para toda a família "Panteras Negras" em geral e em particular a todos os colaboradores deste Blogue, um forte abraço...
Também assentei praça no RI.5 nas C. da Rainha, 1º turno de 71, ainda me lembro desse Major de Instrução a quem alcunharam de Meirim, tinha como ajudante de instrução o Tenente Miliciano, Toni que jogou no SLB. Desse tempo recordo que o nosso comandante de companhia um Capitão que já não recordo o nome, logo nos primeiros dias numa formatura do recolher nos avisou peremptoriamente que devíamos evitar entrar na pastelaria ZAIRA, que ficava ali numa praceta do centro onde se fazia na época o mercado semanal, sem enunciar o porquê de tal interdição, viemos depois a constatar que o Comandante do RI.5 fazia do local o seu poiso habitual na companhia da esposa e amigos ao final da tarde e não queria ser incomodado com os frequentes cumprimentos dos soldados (continências) recrutas, estávamos na era dos filmes a preto e branco…!!
ResponderEliminarMário Gonçalves
Eu sou um pouco mais antigo, entrei para a 4ª Companhia do RI 5 em Abril de 1967, cuja recruta demorou cerca de 3 meses.
ResponderEliminarO quartel era novo,teria uns 2 anos, e em comparação com outros mais antigos e falta de higiene a todos os níveis, dizia-se que tivemos a sorte de ir para um hotel.
Sorte? Pois estes 2 relatos vieram recordar-me esse dito rigor imposto pelo RDM e outros absurdos próprios de mentalidades prodigiosas de instrutores e alguns oficiais.
Todo nós, de certo modo, nos confrontamos com "meirins", cada um ao seu estilo, os tais que para nós eram "apanhados do clima" mas que nos avivam a memória de nossa juventude em que tudo se suportava e hoje se recorda com saudade e sem ponta de ressentimento.
(ex-furriel Almeida)