Lembram-se do Recruta das Caldas? Pois, esse mesmo, que já lá tinha lutado muito para que não lhe roubassem nenhum fim de semana, para regressar ao colo da mãe, agora de saudosa memória e aos braços da namorada, hoje esposa e mãe da sua filha única. Pois, esse mesmo, corria o mês de Abril de 1971, no final da recruta foi presenteado com uma boa especialidade que agora, quando por acaso lhe perguntam, diz que era dos Serviços Gatilhotécnicos, mas naquele tempo era Atirador de Infantaria. Pois, Amanuense do gatilho era uma especialidade militar de alto gabarito, que logo lhe marcava uma ida a África a qualquer um dos três palcos da guerrilha. Passado o primeiro impacto, há que arrumar as trouxas daqueles dez ou doze dias de licença em penates e fazer-se à jornada, ir até ao Algarve, que à data começava a ser um local de veraneio ( para os turistas claro está). A viagem que durou um dia inteiro, até não correu mal. Mas quando cheguei a Tavira, cidade onde estava sedeado o CISMI, Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, o choque foi tremendo. O quartel, um velho convento, cabia todo inteirinho dentro da parada do hotel de cinco estrelas de onde eu tinha saído, RI5 em Caldas da Rainha.
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Porta de Armas do CISMI |
Não é que aquela alma, aquele corisco maligno, cujos galões (um de cada lado) lhe tinham subido dos ombros à cabeça, lá do alto da sua escanzelada estatura, profere com uma alegria indisfarçável: - Está todo o mundo a encher cinquenta. Cinquenta flexões!? Ali logo para o lanche a coisa não estava mal, não senhor. Findas, as ditas cujas, vai de pôr em pé e em sentido como sua senhoria ia mandando. Claro que ao batimento das mãos sujas por terem estado no chão, junto das ancas ao fazer a posição de sentido, lá ficaram registadas a palma das mãos. O artista manhoso que era, passou revista e para quem tinha as calças sujas, o que obviamente sucedeu a todos, e ainda por cima as calças da fardinha número dois “de passeio” que ainda estavam limpas e vincadinhas, por ainda não termos começado os “trabalhos forçados”, foi argumento mais que suficiente para ali mesmo, voltarmos a ficar de quatro, com a tal “queda facial em frente” e pagamos mais cem (Eu não devia nada àquele “gajo”, nunca o tinha visto, mas paguei mais 100, sem refilar).
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Frontaria do Quartel, CISMI em Tavira |
Isto meus caros amigos, foi o meu batismo no CISMI, assim a modos que os aperitivos ou as entradas de um evento gastronómico. Os restantes pratos daquela comida forte no Algarve servir-vos-ei a seu devido tempo, assim o engenho me ajude para o passar a escrito.
Um forte abraço a toda a Família Panteras Negras em geral e em particular aos editores deste Blogue. Até um dias destes.
Manel trouxeste-me à memória outros tempos, outras histórias que aqui hei de contar um dia se a tinta da caneta não secar!.. Quem não se lembra de Tavira, depois de três meses de boa vida no hotel do RI5 nas Caldas. Foi a minha primeira e inesquecível viagem ao Algarve, uma noite inteira de comboio até ao sotavento algarvio, o baptismo nas salinas mal cheirosas, as margens do Gilão que quase todos os dias palmilhávamos de canhota ás costas, os casamentos na parada, a praia das 4 águas na Ilha de Tavira, S. Romão onde fizemos a semana de Campo, o Barranco do Velho onde naquela madrugada fomos abandonados em lugar incerto para atravessarmos os cerros algarvios, um dia e meio no sobe e desce e uma noite mal passada num palheiro em colchão de “jerico” sem podermos utilizar caminhos em macadame só veredas e trilhos de cabras até à carreira de tiro em S. Marcos, aquela “maldita” serra do Caldeirão com tantas curvas, quantos dias tem o ano, que atravessávamos semanalmente, com passaporte de fim de semana num velho e ronceiro machibombo da transportadora EVA, até a Praça das Cebolas em Lisboa, belos vinte anos…!!
ResponderEliminarUm abraço
carvalho
Toda a noite de comboio (nunca mais lá chegava)entre o RI5 e o quartel de Tavira (Setembro a Dezembro de 1967)- Especialidade Transmissões.
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