Tínhamos passado um ano a mais “nos cus de judas”
Em 1974, a JAEA adjudicou a construção dum troço em latrite com 90 kms. entre Sessa e Cangamba, no projectado eixo rodoviário, Silva Porto (Kuito) Tempué, Cangamba e Gago Coutinho, iniciando a desmatação em meados de Março. O efectivo militar de Sessa, era composto na época por um pelotão do Bart.6320/Mussuma apoiado por um grupo de GEs residente e também duas secções na protecção às obras da estrada, que nós rendemos em Março, ocupando as suas instalações de madeira muito toscas, na periferia do estaleiro da Empresa, junto à cabeceira da pista. Tínhamos praticamente acabado a nossa comissão, quando fomos desterrados para Sessa, ficamos lá mês e meio, muito contrariados com um Unimog 404, que avariou, ou avariaram ao fim de uma semana, sendo substituído por uma berliett que nos dava outra segurança e autonomia. Tínhamos passado um ano a mais “nos cus de judas”, a coberto de interesses ainda hoje muito dúbios, as condições anteriores eram precárias, mas havia pão fresco e géneros quase todos os dias, porque as distancias também eram mais curtas, e quando passamos para lá do Ninda, já na picada do Chiúme, fazíamos desdobramentos a meio caminho, que permitiam uma maior operacionalidade.
.
Foto E. Barros - Comuna de Sessa em 1974 |
Agora a 130 ou mais kms, os abastecimentos passaram a bis semanais, levamos um frigorífico a petróleo para minorar o problema, mas a mudança constante do destacamento para proteger a bulldozer, era uma dor de cabeça para o Fonseca de Melo por causa da assistência ao frigorífico e da montagem das novas tendas, todas as manhãs fazíamos dezenas de kms para ir buscar água ao Lucula em Sessa, chegamos a ter de racionar o consumo, senão o auto-tanque não chegava para o dia inteiro, mas pior foram algumas manadas de elefantes, que coabitavam na zona, provocando encontros ocasionais de muita tensão e respeito, e todos estavam avisados que não havia tiro que os parasse.
.
Foto D Monteiro - Na imagem Dias Monteiro, Pina, Barros, Lagarto, Pires, |
Numa ocasião, regressava-mos de Gago Coutinho ao Sessa, com uns GEs que vinham à boleia e a meio caminho indicaram um desvio para vermos uma pequena queda de água, no rio Lucula, a pouca distancia da picada, julgo que era o Lagarto o condutor, que teimou em avançar, quando esbarramos com meia dúzia de elefantes na imediação do trilho, e um macho já crescidinho fez algumas investidas, o bom senso forçou a viatura a sair da picada e a contornar a manada a uma distância de segurança, ficamos apenas com o ruído da cascata, porque ninguém se atreveu, a por o pé no chão para lá chegar, com receio dos animais retrocederem ao rio.
.
Tenda made in USA - Lagarto e Elisio Soares para lá de Sessa em 1974 |
Quando fizemos o primeiro destacamento para além de Sessa, estreamos umas tendas “made in USA” de cor verde, que muitos não chegaram a utilizar, de 4x3 com avançado frontal, tecto duplo de duas águas, cobertura superior para arrefecer o ar, capacidade para 4+4 camas encostadas às laterais, mais luz, mais, frescas e arejadas, duas entradas, quatro janelas laterais, com cortinas mosquiteiras, mas com mais mão-de-obra a montar. Não ficamos lá “ad eternum”, porque tive de regressar ao Nengo, para coordenar o transporte da bagagem para a Metrópole, calhou ao 4º grupo esfolar o rabo ao bicho, já muito próximo da nascente do Rio Lucula, a oeste da comuna do Sessa a 190 kms da sede da nossa Companhia, onde a frente chegou em meadas de Maio, já bem perto de Cangamba, no Município dos Lhucazes.
Adeus até ao meu regresso
Sem comentários :
Enviar um comentário