Corria o mês de Janeiro ou Fevereiro de 1973, estávamos nos acabamentos finais do destacamento na Colina do Nengo, quando o Manuel Cardoso da Silva entrou na messe, vinha todo ardido, porque o Capitão num dos seus dias de mau humor, apertou com ele sobre a logística da defesa do destacamento, no qual as armas pesadas tinham uma preponderância primordial ( Posição das Metralhadoras pesadas, e do Morteiro 81 ). As Metralhadoras seriam montadas nas torres dos postos de sentinela em cantos opostos e o Morteiro 81 ficaria posicionado ao fundo do destacamento sobre o canto esquerdo entre a Messe e a estrutura do Comando. O Manuel na sua maneira característica de falar quando estava irritado dizia f…-.. agora tenho de abrir ali um buraco para por a merda do Morteiro e fazer um plano de tiro.
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O Cap. Rui Crisóstomo, Carlos M. Monteiro, Parreira, Pimenta, Paulo Ribeiro, Diogo, e na piscina Medeiros e Cardoso da Silva |
Quanto ao plano de tiro, a malta no gozo dizia-lhe que a melhor maneira de o elaborar era fazer uns tiros com o morteiro e depois ir á procura das crateras onde as morteiradas tinham caído, tirava as coordenadas e assim tinha um plano de tiro garantido. Imagine-se o que ele não disse e eu lembro-me. Bom, mas isto foi a parte fácil da tarefa, porque o mais difícil era abrir a cova para instalar o Morteiro e encher as sacas de areia para protecção em volta da cova (ninho). Bem, pessoal para abrir a cova está quieto, voluntários não havia, porque os homens de armas pesadas estavam distribuídos pelos pelotões, tal como os enfermeiros e transmissões, etc.
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Medeiros e Cardoso da Silva a "desafogar" o Morteiro |
O Manuel já se via a ter de abrir a cova sozinho, com um ou outro homem e tinha de cumprir prazos por causa da ameaça de ter de ir para o mato. Mas lá conseguiu fazer o essencial para se ter um morteiro 81 instalado com todos os erres e esses (cova com diâmetro x , altura y, sacos de areia em volta, munições, mira montada, níveis, lona de cobertura e protecção do equipamento etc.)
Quando acabou o trabalho ao fim do dia o nosso capitão que pernoitava
em Gago Coutinho foi embora e nós fomos tomar umas cervejas como de costume e o Manuel consolou-se a desabafar.No dia seguinte tudo corria ás mil maravilhas, na messe ao almoço como de costume era bocas para um lado e para o outro e quando menos se esperava caiu uma pancada de água como era próprio da época, um autêntico dilúvio.
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Medeiros e Cardoso da Silva a pescar granadas |
Saímos da messe, cada um para os seus lugares, o Monteiro das transmissões disse-me, oh Medeiros o Morteiro está inundado ..! Fui ter com o Manuel e disse-lhe, ele não acreditou e mandou-me para longe, lá insisti e ele foi verificar. O resto vocês imaginam, o nosso Capitão foi observar e não comentou nada porque o ambiente não estava agradável. O Manuel lá desmontou a arma, limpou, lubrificou e guardou o morteiro em lugar seguro e até à chegada dos Maçaricos nunca mais se falou no Morteiro 81.
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