Os destacamentos em que a companhia foi dividida, originou a necessidade de criar um mínimo de condições para a sobrevivência no terreno. As acções de protecção só eram possíveis, a partir de um acampamento na imediação da frente de trabalho, onde o pessoal dispusesse de um conjunto de apoios que lhes permitisse desempenhar a sua missão. Montar ou deslocar acampamentos na mata, foi tarefa que nos habituámos e que realizamos muitas vezes em simultâneo com a actividade operacional.
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Picada do Nengo 1972 - António Pinto, Carvalho, e Melo |
A companhia utilizou dois tipos de estruturas, o bidonville que construímos na Colina do Rio Nengo, sede do comando da Cart, e os destacamentos temporários, onde as condições eram muito precárias, acomodados em tendas cónicas, durante quase toda a campanha, excepto no inicio da desmatação, na picada entre o Mussuma e o Nengo, em que dormimos algumas vezes debaixo da bulldozer para nos protegermos do frio e dos medos da noite e depois numa segunda fase começamos a montar as tendas, mas dormíamos em colchões no chão, a mobilidade dos acampamentos, dependia da progressão da D8 que aumentava ou diminuía em função da topologia do terreno e da densidade da vegetação na mata, mas depois da terraplanagem passar o Nengo a situação por motivos de segurança estabilizou, o pelotão voltou a reagrupar utilizando novamente a cozinha de campanha, um enfermeiro, uma viatura, transmissões e o pessoal que complementavam a orgânica do acampamento.
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Luanguinga 1972 - João Medeiros e Elisio Soares |
No mato não havia folga para a preguiça, mas sobrava ainda tempo para algumas actividades de lazer, os jogos de cartas eram os mais populares, os açorianos e continentais jogavam à sueca, os cabo verdianos gostavam muito da bisca de três, as damas e o póquer de dados também entretinham, estranho era ver um tabuleiro de xadrez na mata, que muitos não conheciam, jogado entre o Rodrigues e o Arlindo de Sousa que o praticavam amiúde ao final da tarde, a despertarem a curiosidade primeiro, e a entranhar o bichinho depois em alguns, que começaram a compreender o bê-á-bá da saída dos peões e da restante movimentação das peças, cavalos, bispos, torres e realeza.
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Leste 1973 - Caetano e António Oliveira numa de xadrêz |
A segurança, a alimentação, a saúde e a higiene eram os factores que primávamos com mais apego, à noite a vigilância do acampamento ficava à guarda duma secção, que em turnos de duas horas, iniciava “o quarto de sentinela” às 20 horas e terminava às 6 da manhã, quando a cozinha, começava a preparar o pequeno almoço, depois uns iam para a picada, fazer protecção, alguns encarregavam-se da lenha, da água e na ajuda à cozinha, outros na coluna de Berliett, à sede da companhia para reabastecimento, e ao final da tarde não dispensávamos um mergulho, quando o rio estava à mão, ou na falta de melhor, um duche a balde no destacamento.
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Leste 1973 - Caetano, Arlindo, Oliveira e a cafeteira da do banho |
Hora do tacho algures em 1973 - Gonçalves, Parreira, Parreirinha, Eduardo Gonçalves, Cardoso da Silva, Matos e Eliseu |
Ao serão não enjeitavamos uma saída à caça de vez enquanto, quase toda a gente gostava de acompanhar, tornou-se um hábito de tal forma, que tivemos de fazer uma escala, nenhum queria ficar para trás, raramente apagavamos o pitromax "candeeiro" antes da meia noite, havia sempre alguém que queria por o correio em ordem e a leitura em dia, quando a disposição reinava ou a necessidade impunha. Foi assim durante vinte sete meses, num total de oitocentos e tal dias..!!
Adeus até ao meu regresso
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