Descobri estas fotos da Amália no blog “ab4especialistas” tiradas em Gago Coutinho a 9 de Maio de 1972, e fiquei de certo modo admirado por não me recordar de semelhante acontecimento, pois lá no sítio as novidades corriam célere, a coincidência com o drama que vivíamos pelo desaparecimento do Ernesto e a consternação originada na mesma data, foi decerto a causa de tal omissão.
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G. Coutinho 9 Maio 72 - Amália com esposas de miltares e civis na messe de oficiais |
Um dia por via das dúvidas, recorri ao meu espólio dessa época, (correio) para tentar averiguar a veracidade da ocorrência e encontrei num aerograma, a seguinte referência nesse mencionado dia: “ao fim da tarde fomos ao Luanguinga, buscar um cabo-verdiano que foi ao médico a G. Coutinho, por causa dum abcesso num dente, trazia a noticia que esta manhã tinha chegado no avião uma fadista que vinha cantar para a tropa, mas o gajo não soube explicar quem era”.
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G. coutinho 9 Maio 72 - Amália actuando no hangar dos hélicopteros |
Tínhamos chegado a Luanguinga, havia quase um mês, quando a Amália Rodrigues cantou na então Vila Gago Coutinho, numa deslocação a Angola, com actuações em muitos e variados locais, principalmente nas sedes de Batalhão, prática recorrente, usada na época com a ida de artistas da metrópole para animar a rapaziada. Chegou de manhã ao batalhão num avião militar, almoçou na messe com os soldados e a meio da tarde, no destacamento da FAP, num palco improvisado dentro do hangar dos helicópteros, a Diva acompanhada dos seus guitarristas cantou para militares e civis, fazendo esquecer por algumas horas o longínquo “cu de judas” onde vivíamos os dramas do dia a dia.
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Lutembo 10 Maio 72 - O Parreira na ultima e derradeira homenagem ao Ernesto Gomes, num regresso prematuro que todos nós, temíamos. |
A nossa companhia sofria o primeiro revés, pela morte do nosso camarada, Ernesto Gomes desaparecido na fatídica tarde de Domingo, dia 7 Maio de 72 na corrente do rio Lutembo, quando se banhava com os seus colegas e somente encontrado dois dias depois ao final da tarde dessa terça-feira dia 9, uma centena de metros a jusante, na guerra aconteciam coisas bizarras, enquanto chorávamos um camarada desaparecido, ali ao lado, na sede do Batalhão ao qual estávamos adidos, era dia de festa com fado e rancho melhorado. (Informação e imagens do Blog "ab4especialistas")
Adeus até ao meu regresso
Amigo Carvalho:
ResponderEliminarA efeméride a que te referes no teu "post", espelha o que podia ocorrer durante a guerra em que estivemos envolvidos. Até, no presente caso, estávamos ligados ao Batalhão "Cavalo Branco", apenas como adidos para fins administrativos e assim
podia suceder perfeitamente o que sucedeu: Receberem a "estrela do Fado", a Amália, que vinha proporcionar ao militares da Guarnição de Gago Coutinho um pouco de apoio moral e distracção. O falecimento de um militar de uma unidade adida não os afectava, como nos afectou a nós. A propósito disto fez-me lembrar uma ocorrência semelhante duran te a minha primeira comissão, em que ocorreu um acidente de viação em que morreram dois militares(um furriel Milº. e o Sold.Condutor da viatura) e no dia seguinte, enquanto se realizavam os funerais, haviam celebrações de aniversários nas outras Companhias e até na CCS. Ali era assim: vivos, como vivos e mortos como mortos e aceitávamos que assim fosse, pois não haviam outras alternativas. Esta é uma opinião apenas minha, mas era assim que se passavam as coisas.É tudo, por agora. Cordiais saudações para todos os elementos da CArt 3514 e familiares. Para o "Blog-master" e restantes colaboradores, um abraço da camarada e Amigo,
Octávio Botelho