Quantas meu Alferes?
Há dias encontrei um amigo da minha juventude que também passou pelo leste na minha época, foi mobilizado numa companhia que estava sedeada no Luvuéi, e recorda-me sempre, Carvalho lembras-te daquela cena na messe de oficiais em Gago Coutinho, por causa dumas cucas frescas, ia estragando as minhas férias, fiquei muito à rasca quando o Cmt entrou, já tinha viagem marcada com a passagem paga para a metrópole, nunca mais me vou esquecer..!!
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Num destacamento algures 1973 - F. Costa, Rego, Gaspar, Elisio Soares, Correia, Conceição e Coutinho em baixo |
Em Julho de 1972 com três meses de comissão, rodamos para o rio Mussuma, acampamos na margem esquerda junto à ponte, 10 kms a sul da Vila Gago Coutinho, para dar protecção à TECNIL nos noventa quilómetros de picada para Ninda, iniciamos a construção do destacamento numa zona arborizada na orla da chana, para albergar o comando da companhia, que nunca acabamos, por motivos já aqui narrados anteriormente. A protecção à SETEC no troço Luio, Gago Coutinho, ficou operacionalmente a cargo da CCav 3517, que nos renderam no Lutembo e também em Luanguinga, deslocavam-se a Gago Coutinho sempre que havia avião na busca de correio.
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Em Gago Coutinho 1973 - Elisio Soares e Arlindo Sousa |
Nos princípios de 1973, numa das muitas colunas feitas ao batalhão, encontrei na placa da pista junto ao Nordatlas um amigo de longa data, destacado no Lutembo como enfermeiro da 3517, que eu desconhecia na altura, depois de um grande abraço e de pormos a conversa em dia, naquela manhã muito quente e abafada, nada melhor para selar este inopinado encontro, que umas cervejolas para refrescar, convidei-o a entrar no bar dos sargentos, onde já não havia cerveja fresca, o Arlindo Sousa e o “Estrangeiro ( ”1º Cabo João de Almeida Correia, apelidado, pela forma singular da sua pronuncia), alvitraram o bar da messe de oficiais, torci o nariz ao entrar, sugeri antes, que bebêssemos á porta, como era habitual, mas os argumentos do “Mil Nove e Vinte” afirmando que a “Chicalhada” estava toda na pista aquela hora, como era hábito sempre que havia avião, convenceram-me, o meu amigo Zé Victor, muito tímido, por norma avesso a confusões, pergunta-me ao ouvido, se não ia haver maka, tranquilizo-o, enquanto não ouvires o avião a roncar, podemos estar descansados..!! Entrámos, descontraídos e sentamo-nos, o Arlindo pergunta se há cuca fresca, o barista responde, quantas meu alferes? Pedimos uma rodada, e mais outra, eis que, entra o Cmt. do Batalhão, levantamo-nos e fazemos a paulada da praxe (continência), bem disposto responde à nossa saudação com cordialidade, pergunta-nos qual a nossa unidade, respondemos em uníssono, nós somos do Nengo e este camarada da dezassete no Luvuéi, o Cmt. vira-se para o balcão pede um Martini e oferece uma rodada, não me recordo se aceitamos, julgo que alguns perderam logo a sede, a estratégica agora era dar ao slide, o mais rápido possível dali para fora, sem causar mossa…!!
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O Famigerado SETE situado a 30 kms de Ninda, perto da fronteira com a Zâmbia |
O Cmt. emborca o dring em dois ou três tragos, despede-se do pessoal e ao sair chama á porta o rapazinho do bar, que na volta entrou de semblante carregado e angústia estampado no rosto. Levantei-me cheguei ao balcão e pedi a conta, volta-se para mim meio desanimado e sussurra-me, meu furriel, o nosso Comandante pagou a vossa despesa, mas fez-me uma ameaça, se voltar apanhar “estranhos”, no bar da messe de oficiais, dá-me uma porrada e despacha-me para o Chiúme de arma às costas, desculpamo-nos que aquilo eram só bocas, enfim, tentamos animar o rapaz, mas o Estrangeiro na volta comentava no seu intragável “portonhol”, olha o gajo ficou todo borrado com medo Chiúme…!! E quem não tinha receio de ir parar ao Chiúme? Aquilo nem para pessoal de barba rija… aquele destacamento era maior pincel do leste, pior só o inferno do Sete, desactivado após meses de sucessivos ataques de grande intensidade.
Adeus até ao meu regresso