o0o A Companhia de Artilharia 3514 foi formada/mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira Nº 3 em Évora no dia 13 de Setembro de 1971, fez o IAO na zona de Valverde/Mitra em Dezembro desse ano o0o Embarcou para Angola no dia 2 de Abril de 1972 (Domingo de Páscoa) num Boeing 707 dos Tams e regressou no dia 23 de Julho de 1974, após 842 dias na ZML de Angola, no subsector de Gago Coutinho, Província do Moxico o0o Rendemos a CCAÇ.3370 em Luanguinga em 11 de Abril de 1972 e fomos rendidos pela CCAÇ.4246 na Colina do Nengo em Junho de 1974. Estivemos adidos em 72/73 ao BCav.3862 e em 73/74 ao BArt.6320 oOo O efectivo da Companhia era formada por 1 Capitão Miliciano, 4 Alferes Mil, 2 1º Sargentos do QP, 15 Furriéis Mil, 44 1º Cabos, 106 Soldados, num total de 172 Homens, entre os quais 125 Continentais, 43 Cabo-Verdianos e 4 Açorianos» oOo

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Memórias do Leste de Angola - O "Luthier" do Nengo"


- O “Luthier” (*) do Nengo)
Eis-me aqui de novo para recordar uma das histórias ocorridas durante a nossa permanência na ZML(Zona Militar Leste) de Angola.
De certo, interrogar-se-ão: - Que quererá dizer o autor deste articulado com o
subtítulo que lhe põe?…
Concordo que poderá parecer um tanto descabido!...Mas tenham um pouco de paciência, porque o assunto ficará completamente esclarecido, depois de eu contar a “história”, que não é da Carochinha, mas uma ocorrência real , passada durante a nossa comissão em Angola!...
E, sem mais preâmbulos, passemos ao episódio em questão:
Todos sabem que quase metade dos nossos efectivos em Praças, era constituído por cabo-verdianos e também que alguns desses rapazes tinham uma natural propensão para música, em especial pelos ritmos da sua terra e que eles não perdiam as possíveis oportunidades para manifestarem essa sua inata aptidão ajudando, com isso, ao desanuviamento do ambiente próprio de um cenário de guerra como era aquele em nós todos estávamos envolvidos.
Mas tinham deficiências e faltas nos instrumentos musicais que possuíam e as suas exibições perdiam alguma qualidade devido a essas faltas. Entre essas faltas, avultava a indispensável existência de um violino!.. O restante instrumental típico dos ritmos de Cabo Verde existia ou era de fácil improvisação, faltando apenas o imprescindível violino!...
Mas, para todas as dificuldades, há sempre uma saída e ela surgiu e foi magistralmente resolvida por um graduado da nossa Companhia que, sabendo dessa dificuldade, se prontificou a resolvê-la, fabricando, por meios expeditos, o instrumento em falta! É claro que não o fabricou em madeira, pois a que era própria para isso não existia no local, nem ele era, tampouco, especializado no fabrico de violinos!...Mas, sim conseguiu fabricá-lo, imaginem, com folha de flandres, de latas de leite em pó, vindas da Lacto Açoriana, da Ribeira Grande, donde era originário o leite que usámos durante todo o tempo da nossa Comissão!... E imaginem mais!... O “design” do instrumento por ele fabricado, como já disse, com latas de leite em pó, era a perfeita imitação dos correspondentes reais, tanto na forma, como no tamanho, que era o de um 1º.Violino, que é daqueles instrumentos, o que tem o som mais agudo. O instrumento, depois de fabricado, com solda de estanho e folha de flandres, foi encordoado e foi também arranjado um arco para tocar o violino que foi, imediatamente testado e, maravilha!...funcionou mesmo e com uma sonoridade que, embora não sendo a de um “stradivarius”, era bastante aceitável e parecia muito ser o de um verdadeiro instrumento.
Ainda hoje me pergunto onde foram arranjar as quatro cordas para o violino, assim como as cerdas para a construção do respectivo arco!...E das duas uma: ou tinham trazido com eles de Cabo Verde esses materiais ou os adquiriram, certamente, no Luso!...
Falta agora revelar o nome do Graduado que, tão magistralmente, resolveu o problema orquestral dos cabo-verdianos que, daí em diante, nos presentearam com os seus concertos de “mornas”, “funaná”, “coladeiras”, etc., etc…., de muito boa qualidade, contribuindo assim e muito para o desanuviamento psicológico de toda a CArt 3514!… E agora sim, a revelação do nome do “luthier” do Nengo: Foi ele o nosso Fur.Mil./Tms João Osvaldo Moniz Medeiros, meu conterrâneo!...Foi ele quem se deu ao trabalho de construir o célebre violino de lata, que desenrascou o problema dos cabo-verdianos que, como nós, são ilhéus também, mas com uma diferença enorme no respeitante aos ambientes das nossas ilhas: As nossas, são um paraíso e as deles, são muito pouco parecidas com as nossas, sendo a maioria, de origem vulcânica e quase desertas e com raríssimas precipitações pluviais, o que fazia com que, no acampamento e na época das chuvas, quando haviam aquelas precipitações diluvianas, se atirassem, como vieram ao mundo, para o meio das chuvadas, cantando e saltando, como crianças no meio daquelas bátegas, banhando-se, deliciados, com a água vinda dos céus!...
Esta “história”, demonstra o que poderá ser feito em muitas áreas, desde que haja um mínimo de solidariedade e vontade de ajudar àqueles que têm necessidade de ajuda!.. Serve ainda para realçar o espírito de prestabilidade que teve o Fur.Milº.Medeiros ao prontificar-se a dar a “mão” aos que dela precisaram, revelando assim o espírito de entreajuda que anima todos os ilhéus, em quaisquer situações. Por esta minha opinião, posso ser considerado suspeito, uma vez que também sou ilhéu e poderão dizer a meu respeito que “cada um puxa a brasa à sua sardinha”!...Mas a realidade não é essa mas sim, a de que não posso deixar no esquecimento a acção do Camarada Medeiros e, por esse mesmo motivo, a publico neste “post”!...
Este já está, fora do que é habitual, demasiado longo e, assim sendo, não quero prolongá-lo muito mais, para me não tornar fastidioso.
Termino, pois, enviando cordiais saudações para os colaboradores deste Blogue, para todos os elementos da CArt 3514 e seus familiares e ainda para os eventuais visitantes do mesmo, quer estejam em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo.
Para todos um até breve com um grande abraço do camarada e Amigo,
Botelho
NOTA – (*) “Luthier”, palavra francesa usada para designar um fabricante de violinos e instrumentos afins, com o nome genérico de “cordas”.

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