Elisio Soares, Cardoso da Silva nas congas, Simplicio Caetano á viola e o "cv" Augusto Silva, no destacamento do Mussuma
Estávamos acampados na pedreira do Nengo e na periferia tinha-se instalado uma pequena aldeia comunitária de trabalhadores indígenas e suas famílias, que laboravam na extracção de inertes, na estação de britagem e na preparação de betuminosos (alcatrão) da Tecnil
Muitos deles recorriam da ajuda sanitária prestada no âmbito da psico, pela tropa ás populações, no tratamento a maleitas diversas e cuidados de saúde, medicamentando dores de cabeça, paludismos, diarreias, constipações e primeiros socorros, envolvendo muitas vezes a necessidade de pequenas cirurgias para suturar ferimentos.
Naquela época a farda de trabalho dos locais era muito rudimentar, uns calções, uma camisa e pouco mais, descalços, cabeça ao léu, mãos desnudadas num trabalho que requeria equipamento de protecção adequado á agressividade dos elementos a manusear.
Todas as manhãs se formava uma fila á porta da tenda e o “cacimbado” que muitas das vezes não tinha medicamentos ou comprimidos adequados a determinadas enfermidades, socorria-se do “melhoral”, não fazia bem nem mal, como ele dizia, havia alturas em que os stocks entravam em rotura, e o “doctor” que também já sofria dos efeitos do cacimbo e do pó da latrite, colava com adesivo meio comprimido na testa do paciente e aconselhava solenemente, se perderes este não levas mais nenhum, mas se piorares volta cá amanhã, foi algumas vezes admoestado por causa destes devaneios e do seu estado de alma, mas era recorrente neste tipo de terapia de vanguarda, pois havia muitos que todos os dias acampavam por ali com uma dorzita qualquer, que na maioria das vezes se resolvia com um simples prato de sopa.
Na imagem o António Dias da Rosa da ilha do Fogo e o Elisio Soares
Uma tarde chegou uma noticia ao acampamento que um grande chefe da ZML acompanhado de pequenos chefes locais, visitaria na manhã seguinte o estaleiro da Tecnil o musseque local e as obras da estrada rodoviária, e o “cacimbado” ficou nervoso por causa das novas técnicas terapêuticas que vinha implementando, teve de lançar á pressa, um boato entre a comunidade indígena, que o medicamento aplicado expirara o prazo de validade, pelo que todos deviam substitui-lo o mais rápido possível, a mensagem de “boca em boca”, chegou a toda a gente num ápice, pelo que todos se apresentaram, para o substituírem por outro placebo, tomado via oral, não fosse o diabo tecê-las, (confissão prestada pelo próprio).
Pior aconteceu depois com o pessoal que trabalhava na pedreira, reduzindo á força da marreta a volumetria dos blocos de rocha, não havia dia nenhum que o “cacimbado” não costurasse um pé, uma canela, ou uma coxa com um corte, infligido por uma lasca de pedra ou um bocado de aço do martelo, estava –se a passar da corneta com a situação, até ao dia que inventou uma solução, apresentada ao encarregado da pedreira, para atenuar os acidentes, ideia brilhante e simples, o pessoal começou a recorrer á casca duma árvore para fazer umas caneleiras, para proteger a perna do pé até á coxa, parecia uma equipa de hóquei, mas resultou em pleno, os incidentes daquele tipo foram reduzidos quase a zero, com os marteleiros a serem proibidos de trabalhar sem protecção nos membros inferiores.
Adeus até ao meu regresso
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