o0o A Companhia de Artilharia 3514 foi formada/mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira Nº 3 em Évora no dia 13 de Setembro de 1971, fez o IAO na zona de Valverde/Mitra em Dezembro desse ano o0o Embarcou para Angola no dia 2 de Abril de 1972 (Domingo de Páscoa) num Boeing 707 dos Tams e regressou no dia 23 de Julho de 1974, após 842 dias na ZML de Angola, no subsector de Gago Coutinho, Província do Moxico o0o Rendemos a CCAÇ.3370 em Luanguinga em 11 de Abril de 1972 e fomos rendidos pela CCAÇ.4246 na Colina do Nengo em Junho de 1974. Estivemos adidos em 72/73 ao BCav.3862 e em 73/74 ao BArt.6320 oOo O efectivo da Companhia era formada por 1 Capitão Miliciano, 4 Alferes Mil, 2 1º Sargentos do QP, 15 Furriéis Mil, 44 1º Cabos, 106 Soldados, num total de 172 Homens, entre os quais 125 Continentais, 43 Cabo-Verdianos e 4 Açorianos» oOo

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal de 73

Hoje é noite de Natal!
Noite de silêncio!
No coração dos homens o desejo; de alegria, de paz e de amor.
Foi assim há 35 anos numa noite cálida e tranquila, algures nas matas do Nengo, que a CART 3514 celebrou o seu 2º Natal em terras angolanas. Foi uma noite diferente. Uma noite em que, de forma especial, nos tocou o coração inebriando a alma. Foi uma festa. Uma pequena grande festa.
Reunimo-nos no espaço do refeitório. Fizémos uma ligeira ornamentação para criarmos ambiência. Só o necessário para o enquadramento desejado: Três armas metralhadoras G3 ensarilhadas e envolvidas num laço vermelho colocado junto aos tapa-chamas, uma vela acesa. Ambiente simples, real, cheio de força e de meditação. Simplesmente divinal!
Devidamente aprumados, lá estava o nosso Grupo Coral - o da CART 3514 -.
Apresentámos uma tômbola de canções, misturando as clássicas de Natal com outras ditas de intervenção ou resistência. O que não valeu termos tido o Comandante que tivémos...
Já era assim, mesmo antes do 25 de Abril, que entendíamos, ainda que de forma ingénua, a realidade politica portuguesa e a malfadada guerra colonial. Deste modo, nada mais lógico do que cantarmos o "hino da revolta" do Francisco Fanhais: "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. A bomba de Hiroshima, vergonha de nós todos, reduziu a cinzas a carne das crianças".
Assim se abriu o nosso humilde mas entusiástico recital, passando-se de seguida para as melodias natalícias, com letras adaptadas à realidade de então como; "Homens da terra jamais, jamais a guerra. Natal, natal justiça e paz. Natal, natal, nasceu o Redentor".
De facto Ele, no seu tempo, foi o redentor. Para os crentes - e o Natal é a festa dos cristãos - Ele foi o libertador do seu povo. O revolucionário que pôs em causa todos os cânones farisaicos de então, deixando uma mensagem de luta e esperança, aos pobres e aos oprimidos do jugo esclavagista.
Ainda hoje estou vendo e ouvindo aquelas vozes firmes e estridentes do Botelho, do Dinis, do Paulo Ribeiro e de tantos outros, cheias de juventude, de energia, de garra e de amor.
Valeu a pena esta experiência que certamente terá ficado gravada no consciente de todos nós.
Tal como ontem, hoje também é um dia especial. É dia de Natal...
Votos de um Santo Natal para todos os companheiros da CART 3514 e suas familias.

1 comentário :

  1.            Caro Soares:     Não imaginas a emoção e saudade que o teu "post" me provocou, tão evocativa foi a tuadescrição daquela já tão longínqua,mas sempre presente, noite de Natal
    celebrada na noite tropical e miste
    riosa nas "anharas" do Nengo. Evocaste-a com uma tão perfeita se-
    quência de imagens literárias que se nos afigura estarmos a assistir
    a uma completa reconstituição da o-
    corrência descrita.
    De tudo aquilo que descreves,
    fica em mim e, suponho eu, em qualquer um que leia o teu texto e
    tenha vivido aqueles distantes acontecimentos, uma pungente nostalgia daquela vivência de paz e harmonia naquele cenário de guerra!... Digo-te, caro Soares, que, a mim, aquela ocorrência me ajudou a melhor passar as saudades
    que sentia por estar ausente dos meus familiares e mesmo agora e a esta distância no tempo te digo: Bem hajas!...
    E, não tenhas dúvidas, aquela festa de Natal, feita num cenário misto de guerra e de paz,´foi e é um marco inalterável das nossas vidas, que jamais será alterado e perdurará na nossa memória colectiva enquanto vivermos.
    Não quero prolongar mais as minhas considerações e termino apresentando desejos de boa saúde
    aos colaboradores e visitantes deste "blog", com as mais cordiais
    saudações.
    Um abraço do amigo

    Botelho

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